5 livros essenciais para não confundir Kafka com cafta

Confundido com um tradicional prato árabe pelo ministro Abraham Weintraub, da Educação (não se impressione com o cargo), o tcheco Franz Kafka é um dos mais influentes escritores de todos os tempos. Raríssimos autores conseguiram criar um mundo e uma linguagem ao mesmo tempo particulares, íntimos, e universais. O brasileiro Guimarães Rosa integra esse time.

Foto: Carta Capital

De quebra, oferecemos uma receita do tradicional prato árabe para você saborear enquanto lê
Confundido com um tradicional prato árabe pelo ministro Abraham Weintraub, da Educação (não se impressione com o cargo), o tcheco Franz Kafka é um dos mais influentes escritores de todos os tempos. Raríssimos autores conseguiram criar um mundo e uma linguagem ao mesmo tempo particulares, íntimos, e universais. O brasileiro Guimarães Rosa integra esse time.

Mais raros ainda são aqueles que viraram sinônimo de um estado de coisas, de um sentimento, de uma realidade. O ambiente de opressão de suas histórias, a supressão da individualidade de suas personagens, vencidas pela burocracia e a ignorância coletiva, deram origem ao termo kafkiano, que define uma situação surreal, absurda, entre o real e a ficção (como esta que vivemos no Brasil).

A obra de Kafka, morto aos 40 anos em 1924, vítima de uma tuberculose, prenuncia o horror do totalitarismo que levaria a Europa à Segunda Guerra. Formado em Direito e funcionário de uma companhia de seguros, o tcheco captou por experiência os efeitos nefastos do poder impessoal das corporações e das estruturas burocráticas do Estado.

Sua própria trajetória tem um quê de Kafkiana. A morte prematura interrompeu uma carreira literária que começava a obter o reconhecimento da crítica. Não fosse pela decisão de Max Brod, amigo e testamenteiro, de desobedecer o pedido explícito de Kakfa para que todos os seus manuscritos fossem destruídos, o mundo não teria sido brindado com obras como “O Processo” e “O Castelo”.

A seguir, enumeramos cinco livros fundamentais para você não confundir o escritos tcheco com o espeto árabe. No fim, oferecemos uma receita tradicional de cafta, caso a leitura de Kafka estimule a sua fome:

1. O Processo

O mais famoso romance de Kafka inspirou escritores de todos os gêneros, além de adaptações para o cinema e o teatro. O livro conta a história de Josef K., cidadão que um dia, ao acordar, descobre ter se tornado réu em um processo cujo crime não é especificado (teria o juiz Sérgio Moro se inspirado na obra?). Em um dos trechos mais premonitórios, Josef K., que sustenta sua inocência até o fim, vê-se diante de uma pergunta de quem o julga: “Inocente de quê?”

Assista ao trailer de O Processo, clássica adaptação de Orson Welles para o cinema:

2. A Metamorfose

“Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em uma cama metamorfoseado num inseto monstruoso”. Literatos consideram esta frase uma das mais cativantes aberturas de uma novela ou romance. Gregor Samsa, o protagonista, é um caixeiro viajante que abandona seus desejos e vontades para sustentar a família e pagar as contas do pai. Quando se torna uma barata, provoca uma repulsa entre os familiares e amigos. Com consequências trágicas.

Trailer de uma adaptação para o cinema de A Metamorfose

3. O Castelo

Escrito dois anos antes de sua morte, mas só publicado por Brod em 1926, conta a tentativa fracassada de um agrimensor, chamado K., de entrar em um castelo e prestar os serviços para os quais foi contratado. Em caudalosos monólogos, os personagens constantemente desmentem-se ou contam versões distintas de um mesmo fato. Lembra bastante o governo Bolsonaro.

 


ESCULTURA EM HOMENAGEM A KAFKA (FOTO: PIXABAY)

4. O Desaparecido ou Amerika

Um dos livros inacabados de Kafka, é um raro caso no qual os personagens são calculadamente otimistas (para os padrões do escritor). A Amerika é uma espécie de empresa que abarca o mundo, cuja redenção só é possível quando o indivíduo consegue um emprego. Não deixa, porém, de ser uma paródia do american dream.

 

5. Um Artista da Fome e outro contos

Arquétipo do escritor, o conto “O Artista da Fome”, o mais conhecido dessa seleção, acompanha o dia-a-dia de um jejuador profissional frustrado por não poder levar ao extremo a sua arte (o empresário o obriga a interromper o jejum a cada ciclo de 40 dias) e por não ser compreendido pelo público (que vê seu esforço como sofrimento).

E para acompanhar a leitura… uma receita de cafta!

Há centenas de possibilidades para fazer cafta, adaptando os temperos ao gosto de cada um. A receita mais básica leva carne de vaca moída (um quilo), hortelã picada (meio maço), cebola picada (uma unidade pequena), salsinha picada (a gosto), limão (uma unidade), sal (a gosto) e pimenta (a gosto, de preferência a síria). Zaatar, um condimento árabe, combina muitíssimo bem. Canela, em pouca quantidade, dá um perfume extra. Há quem use alho, páprica ou cominho.

Junte todos os ingredientes em uma vasilha e misture bem, até formar uma massa homogênea. Molde em forma de linguiça e grelhe no ponto que achar melhor. Para um resultado mais saudável, faça cafta assada (cerca de 20 minutos em forno a 180 graus).

E boa leitura – de Kafka.

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