A IDEALIZAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS ESTUDANTES IPIRAENSES
Por Rodrigo Santana – Sexta, 12 de junho de 2020
Qual é a melhor história do mundo? Se depois de refletir bastante sobre nomes da História Oficial, se depois de vasculhar as epopeias mitológicas em busca do grande herói que você conheceu a história, se depois de ter desconstruído a visão romântica que tinha na infância sobre os seus pais, é possível que você perceba que a melhor história do mundo é a sua história de vida por que é a única que você é o grande protagonista e por que é a história que você sempre irá narrar repleto de entusiasmo. É importante ressaltar que esse seu passado é um recorte e sempre será narrado por um prisma. Isso significa dizer que existem outras versões para o mesmo momento histórico.
“Acho que o imperfeito não participa do passado” é o que diz Renato Russo na letra da música: “Meninos e Meninas” e não erra, pois as pessoas têm uma tendência espontânea a relatar parte daquilo que viveram destacando feitos que lhes põem em posição de alguém a ser admirado. Afinal nenhum homem irá dizer que o motivo da namorada tê-lo abandonado foi por que ela achava que o seu pênis era pequeno ou por que ele tinha ejaculação precoce ou por que ele broxava ou por que ele não dava conta do recado na cama.
“Eu não sou besta pra tirar onda de herói” é o que diz Raul Seixas na letra da música: “Cowboy fora da lei” e é taxado de inconsequente por alguns militantes de esquerda, mas eu o admiro por ter admitido que tinha medo de morrer, que esse enfrentamento aos militares que resultava em tortura ou em morte não era visto por todos como gesto de heroísmo.
“Na minha época a Casa dos Estudantes é que era boa…” Essa frase é bem comum de se ouvir de um ex-residente da Associação dos Estudantes Ipiraenses quando vai contar os “anos dourados” da sua passagem pela associação, mas por que a Associação dos Estudantes Ipiraenses sempre é observada por alguns ex-residentes como um lugar que foi perdendo a sua verdadeira essência?
A Seleção Brasileira de Futebol que ganhou a Copa de 1958 não é igual a que ganhou 1962, 1970, 1994 e 2002, por que a representação é a mesma, mas os jogadores são outros e estão inseridos em momentos históricos distintos. Só que quando alguém fala sobre a seleção brasileira atual, ela é sempre adjetivada com pior do que a dos anos anteriores.
“Tudo flui, nada persiste nem permanece o mesmo” é o que diz o filósofo Heráclito de Éfeso e não erra. Então por que em relação a mudança na Seleção Brasileira de Futebol e da Associação dos Estudantes Ipiraenses não é analisada como diferente ao invés de se atribuir juízo de valor? Seria bem melhor para dialogar por que você está respeitando o outro de acordo com momento histórico que ele está inserido.
“A gente conhece o (a) estudante que vestirá a camisa da AEIPI pelo arriar das malas” ao analisar esse discurso que era comum de se ouvir na época em que eu morei na AEIPI é possível perceber que é um olhar tendencioso por que tenta enquadrar diversas formas de existir e pensar num único modus vivendi, pois mesmo quem era taxado como alguém que “não vestia a camisa da AEIPI” era importante naquilo que tinha desenvoltura para fazer. Eu mesmo me equivoquei em muitas posturas influenciadas por esse viés maniqueísta que só atrapalha a união do coletivo. E fico feliz que os atuais moradores da Associação dos Estudantes Ipiraenses superaram essa dualidade interna.
Rodrigo Santana Costa é professor e escritor. Publicou a obra: “Clarecer” em verso e prosa.