A morte de Boechat, a voz do cotidiano de milhares de brasileiros, comove o país

Do presidente da República aos milhares de ouvintes anônimos, admiradores de Ricardo Boechat manifestam choque e tristeza nas redes

O jornalista Ricardo Boechat, que faleceu aos 66 anos.

Do presidente da República aos milhares de ouvintes anônimos, admiradores de Ricardo Boechat manifestam choque e tristeza nas redes.

JOANA OLIVEIRA

São Paulo 

A notícia do falecimento do jornalista Ricardo Boechat aos 66 anos em um acidente de helicóptero nesta segunda-feira, em São Paulo, foi recebida com choque e tristeza no mundo jornalístico, entre personalidades políticas e por milhares de ouvintes que se viam representados na indignação popular que Boechat levava ao microfone a cada manhã, como radialista na Bandnews FM.


O presidente Jair Bolsonaro, que continua recuperando-se uma cirurgia e de uma pneumonia no hospital Albert Einstein, expressou suas condolências em nota. “O país perde um dos principais da imprensa brasileira. Sentiremos a falta de seu destacado trabalho na informação da população, tendo exercido sua atividade por mais de quatro décadas com dedicação e zelo”. Bolsonaro também usou as redes sociais para homenagear o jornalista: “É com pesar que recebo a triste notícia do falecimento do jornalista Ricardo Boechat, que estava no helicóptero que caiu hoje em SP. Minha solidariedade à família do profissional e colega que sempre tive muito respeito, bem como do piloto. Que Deus console a todos!”, escreveu no Twitter.

Carlos Bolsonaro, filho do presidente e vereador do Rio de Janeiro, também disse que “Boechat era um grande profissional, referência no jornalismo, capaz de conquistar o respeito tanto dos que convergiam quanto dos que divergiam de suas ideias e opiniões.” “Que seja sempre lembrado por isso”, acrescentou.

O presidente do Senado, David Alcolumbre (DEM), afirmou em nota que recebeu “em estado de consternação e tristeza” a notícia da morte de Boechat. “Tenho certeza que os brasileiros lamentam a morte desse argentino que escolheu o Brasil como lar. Fica a saudade e o respeito pelo homem e jornalista que sempre demonstrou ser”, diz.

A procuradora-geral da República Raquel Dodge afirmou em nota que “o silêncio de Boechat será eloquente e sentido em todo o país, porque ele fazia a crítica séria e necessária que caracteriza o bom jornalismo, e é tão necessário para a democracia. Seus ouvintes e leitores sempre contaram com sua coragem e seu discernimento para compreender os movimentos da política e da gestão pública, em análises focadas na ética e na transparência. É, por isso, uma perda significativa para o jornalismo brasileiro.”


O jornalismo, em luto

Diversos colegas de profissão, tanto da BandNews quanto do período em que o jornalista trabalhou na Rede Globo (de 1983 a 2001), expressaram a dor pela perda de um companheiro e de uma referência do jornalismo brasileiro. A rádio BandNews, onde o jornalista era âncora, ficou fora do ar por alguns minutos, pois seus colegas não tinham condições de trabalhar depois da confirmação do falecimento do jornalista. José Luis Datena, apresentador da TV Bandeirantes e amigo pessoal de Boechat, deu, ao vivo e entre lágrimas, a notícia do acidente. “Com profundo pesar desses quase 50 anos de jornalismo, cabe a mim informar a vocês que o jornalista Ricardo Boechat, pai de família, companheiro, o maior âncora do jornalismo da TV brasileira, morreu hoje em um acidente de helicóptero no Rodoanel em São Paulo”, contou, visivelmente emocionado.

É consenso no meio jornalístico que Boechat era “insubstituível” e “um dos maiores comunicadores” do Brasil. A jornalista da Globo Miriam Leitão, que em 2015 dividiu com Boechat o prêmio de jornalista mais respeitada do país, lembrou as “palavras generosas” do amigo em momentos difíceis. “Você foi pessoa linda, jornalista maravilhoso”, declarou.

Guilherme Barros, jornalista que foi colunista da Folha de S. Paulo e era amigo de Boechat, diz que está “arrasado” com a notícia. “Se o jornalismo tivesse um rosto, seria o de Boechat. Estivemos muitas vezes juntos, em diversos momentos, trabalhando ou conversando, e ele nunca mudou. Humilde, generoso, bem-humorado e sempre implacável com a coisa errada, com o mal feito. Sem papas na língua, falava o que lhe vinha à cabeça, e o pior (para o alvo da vez) é que tudo fazia sentido, muito sentido”, escreveu. “Como vai ser a vida, a partir de agora, sem ouvir Boechat, todas as manhãs?”, pergunta-se Barros.

“Concordando ou não, todos os respeitavam, queriam saber sua opinião”, lembra o escritor e cronista Marcelo Rubens Paiva.

“Boechat era uma referência do jornalismo: como colunista, como âncora. Com tudo o que era, conseguia ser generoso com quem tinha menos experiência”, disse Vera Magalhães, colunista do Estado de São Paulo.

“Só conheci Boechat como ícone da minha geração mais caloura de jornalistas, não pessoalmente. Mas o simbolismo de sua perda no começo deste ano que promete ser tão chumbado para ser jornalista vai deixar cicatrizes. Ninguém larga o bloco de notas de ninguém”, escreveu Anna Virginia Balloussier, repórter da Folha de S. Paulo.

Nomes como Chico Pinheiro, Alexandre Garcia e Ricardo Noblat, que conheceram Boechat quando este era apresentador do Bom Dia Brasil, na TV Globo, destacaram seu profissionalismo e seu “modelo de jornalismo corajoso”.

Admiradores anônimos de Boechat, seus milhares de ouvintes e seguidores  também manifestaram-se. “Que ano triste”, dizem muitas postagens nas redes. No Twitter, a hashtag Cancela 2019 entrou nos trending topics menos de uma hora depois do acidente fatal que vitimou o jornalista. “A imprensa brasileira perde um grande comunicador”, afirmam os internautas, que consideravam o radialista “um grande monstro do jornalismo”.


Fonte: brasil.elpais.com

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