A VERSÃO DO LOBO MAU DA HISTÓRIA
Por Rodrigo Santana – Sexta, 8 de maio de 2020
Era uma vez um esquálido lobo que morava numa floresta. Esse lobo estava faminto e caminhava a procura de alguma presa para se alimentar, mas não conseguia encontrar nenhuma por que os lenhadores tinham desmantado tanto a floresta para vender a madeira que os animais silvestres ficaram sem sombra para se protegerem do Sol e sem água para beber já que os rios começaram a secar. Certo dia, o lobo sentiu um cheiro de bolo quente como se tivesse acabado de sair do forno e ao usar o poder do seu faro conseguiu localizar de onde vinha. Era de uma cesta que estava sendo segurada por uma menina com uma capa vermelha que estava colhendo flores.
O lobo apareceu diante de menina e perguntou com calma para não assustá-la:
— Bom dia, menininha linda, aonde você vai tão alegre?
— Vou à casa da minha vovozinha — respondeu a menina com certo medo.
— E estes cheirosos bolinhos são para ela? — perguntou o lobo, com a boca cheia de saliva e com os olhos cheios de desejo de saciar a sua fome.
— São — respondeu Chapeuzinho Vermelho.
— Você pode me dar alguns destes bolinhos? Eu estou te pedindo por que o meu estômago já está doendo de tanta fome e não encontrei nenhum animal na floresta para me alimentar.
__ Acontece que a minha mãe disse que os bolinhos eram todos da vovozinha por que ela adora esses bolos que a minha mãe faz e disse que não era para eu dar nenhum a ninguém que eu encontrasse pelo caminho__Respondeu Chapeuzinho Vermelho.
__ Nossa…Como a sua mãe lhe ensinou bem a ser egoísta! Ela deve ter sido educada pela sua vovozinha assim também, pois pela quantidade não custa nada dividir__Disse o lobo.
__ Eu não posso fazer nada por você. Eu não vou desobedecer a minha mãe por que se a vovozinha perceber que dessa vez veio menos que bolinhos que das outras, ela irá me interrogar até eu dizer o que eu fiz com os outros. Além disso, deixa eu ir logo por que eu já demorei demais aqui__Disse Chapeuzinho Vermelho
Conhecendo aquela floresta como a palma da sua mão, o lobo pegou um atalho e chegou à casa da vovozinha bem antes da menina. Lá dentro, amarrou a velhinha, tapou a sua boca e escondeu ela dentro do guarda-roupa. Então, pegou uma roupa da vovozinha no armário, vestiu-se e deitou-se na cama.
Ao chegar, Chapeuzinho Vermelho estranhou o aspecto da vovó e perguntou: — Puxa, vovozinha! Como a senhora está raquítica — É por que eu não tenho me alimentado bem, querida netinha — disse o lobo, disfarçando a voz.
— Uau! Como as suas mãos estão trêmulas, vovozinha!
— A Inanição deixa o meu corpo fica assim, minha amada netinha!
— E esses trovões no estômago, como estão grandes, vovó!
— E de tanto esperar você chegar com os bolinhos minha netinha.
— E essa boca salivando assim, vovó, está com Sialorreia?
— Essa boca salivando é fome, menina
curiosa!
Mal respondeu e o lobo saltou da cama, engolindo um bolinho atrás do outro.
Sentindo-se saciado, o lobo pegou no sono.
E como Chapeuzinho Vermelho já tinha voltado para casa, o lobo tirou a roupa da vovozinha que estava apertada no seu corpo e ficou descansando o corpo por mais umas boas horas. Pouco tempo depois, já estava sonhando. Os sonhos pareciam tão reais que o lobo conversava em voz alta.
Um lenhador que passava por ali e conhecia a velhinha estranhou aquela voz grossa conversando dentro da casa. Pensando ser a velha com algum amante, resolveu entrar por curiosidade.
O lenhador tomou um susto quando viu o lobo dormindo como uma pedra na cama da velhinha.
Ele abriu o guarda-roupa e viu a velhinha toda amarrada! Pegou um pano de prato na cozinha e molhou com Clorofórmio e pressionou contra o nariz do lobo fazendo o desmaiar. Em seguida, resolveu castigar o lobo. Então, amarrou ele numa árvore no quintal. Chamou outros lenhadores da vizinhança e começaram bater no rosto do lobo para ele despertar.
__Ó seu ladrãozinho de merda, você vai apanhar feio da gente agora para aprender a não roubar mais aqui, Entendeu?__Perguntou um lenhador
__ Eu não roubei nada de ninguém! Pode até me revistar se quiser__Respondeu o lobo.
__Ah é? Então o que é que você queria dentro da casa da velhinha com ela amarrada dentro do guarda-roupa?
__ Eu estava com fome e a neta dela trouxe uns bolinhos numa cesta. Daí eu usei este disfarce só para me alimentar, mas não roubei nenhum pertence da velhinha.
__ E você acha certo amarrar e amordaçar uma mulher daquela idade?
__ Certo não é, mas se eu fosse pedir uns bolinhos ela não me daria, pois eu tinha pedido a neta antes de vir para a casa da velhinha e a neta não me negou. Então eu pensei que a velhinha iria fazer a mesma coisa.
__ E você acha correto invadir a casa dos outros e comer o que não é seu?
__Não. Só fiz isso por que não encontrei outro jeito de me alimentar.
__ E por que não vai trabalhar ao invés de tirar o que é dos outros?
__ Ninguém me dar emprego por que eu não tenho experiência.
__Problema seu! Vai apanhar para aprender a nunca mais fazer o que fez!
__Não façam isso, por favor! Eu nunca mais vou voltar aqui. Deixem-me ir.
__ Agora você sabe chorar demonstrar arrependimento pelos seus erros.
__ Meu senhor…Se eu tivesse o que comer, eu não estaria fazendo nada disso.
__Tome aqui na cara, seu merdinha! Eu vou decepar as suas mãos para você não pegar mais nunca o que não lhe pertence!
__ Não faz isso, moço! Pelo amor de Deus!
__ Agora é tarde, você só sairá daqui quando essa raiva que eu estou passar. Seu filho de uma puta!
__ Por que o senhor não me consegue um emprego ao invés de fazer essas coisas comigo?
__ Eu vou empregar ladrão para quando eu estiver ausente me roubar? Era só o que me faltava.
__Eu não tenho antecedentes criminais! O que aconteceu hoje foi um momento de desespero.
__ Aqui o desespero ó!
__ Eu estou sagrando, moço! Me desamarra, eu quero ir para casa.
__ Vai dormir aí amarrado nem que sangre até a morte.
Rodrigo Santana Costa