Alterações nos órgãos genitais de bebês são mais comuns do que parecem

Berenice Bilharinho de Mendonça explica por que devem ser tratadas com normalidade as diferenças no desenvolvimento sexual

Foto: USP

Berenice Bilharinho de Mendonça explica por que devem ser tratadas com normalidade as diferenças no desenvolvimento sexual


Por Leonardo Lopes – Editorias: Atualidades, Jornal da USP no Ar, Rádio USP – URL Curta: jornal.usp.br/?p=259378

Durante os dois primeiros meses de gestação os órgãos genitais internos e externos são iguais em todos os bebês. Após esse período, começam a se expressar uma série de genes que atuam para diferenciar os genitais como se conhece por masculino e feminino. Existem diversos fatores que podem alterar esse processo e fazer com que a criança nasça com a genitália não claramente definida como feminina ou masculina; essa situação é chamada de “diferenças do desenvolvimento sexual”, contou ao Jornal da USP no Ar a professora Berenice Bilharinho de Mendonça, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina (FM) da USP.

Segundo estimativas adotadas pela ONU, entre 0,05% e 1,7% da população humana se enquadra no quadro apresentado pela professora. Ela explica que é necessário aos pais terem calma diante de tal situação, pois assim como podem ocorrer alterações na face, como lábio leporino ou alterações cardíacas, existem as alterações dos genitais que devem ser tratadas com tranquilidade.

A professora pontua a necessidade de se entender que é errônea a noção de que “todo indivíduo com 46 cromossomos, tendo XX como cromossomos sexuais é mulher, e todo indivíduo com 46 cromossomos e XY é homem”. Isso porque o cariótipo não basta para definir o desenvolvimento sexual, todos os genes que vêm depois são necessários para concluir o desenvolvimento habitual.

Um feto humano, ligado à placenta, cerca de doze semanas após a fertilização – Foto: National Museum of Health and Medicine

Hoje em dia, com os avanços da medicina, já é possível se diagnosticar esses casos antes mesmo do nascimento. No Brasil os doutores ao realizarem exame de ultrassom, para verificar alterações no feto, geralmente já definem também o sexo do bebê. Além disso, Berenice conta que é comum se fazer a sexagem fetal, isto é, um exame de sangue na mãe para verificar se ela tem genes ligados ao cromossomo Y expressos no sangue dela. Caso tenha, indica que está grávida de um feto masculino. “Se eu tenho esse diagnóstico de feto masculino através da sexagem, e faço um ultrassom que indica genitais femininos, estou diante de uma diferença do desenvolvimento sexual”, complementa.

Ao lidar com a ansiedade dos pais no nascimento, o médico deve explicar que serão necessários exames para definir o sexo biológico do recém-nascido, e assim orientar para que se retarde um pouco o registro da criança. Cabe aos pais também comunicar aos familiares e amigos da situação para que tenham calma. Berenice comenta que como esses casos são raros, poucos centros médicos estão preparados. Se não houver uma equipe preparada para lidar com o caso, a criança deverá ser encaminhada para centros terciários “como o Hospital das Clínicas, Unicamp, Santa Casa, Escola Paulista de Medicina, entre outros”.

A especialista ainda explica que graças ao avanço da medicina hoje em dia não é comum de se ocorrer avaliações diagnósticas como na década de 70. Na época, muitos diagnósticos eram dados se analisando quão virilizada era a genitália da criança; a cirurgia era feita, porém o indivíduo posteriormente não se identificava com seu gênero. “Hoje em dia isso acontece muito menos porque temos recursos diagnósticos e conseguimos saber a longo prazo como o paciente vai evoluir. Normalmente o diagnóstico é correto e coincide com o sexo da identidade de gênero, que seria o gênero pelo qual o indivíduo se identificaria após o desenvolvimento.” Os procedimentos técnico-cirúrgicos necessários são garantidos pela rede pública de saúde no Brasil.

A professora conclui reforçando que esses casos são simplesmente uma variação do desenvolvimento humano habitual e que poderiam acontecer com qualquer órgão. “O necessário é que se tenha um laboratório especializado e equipe treinada para com segurança e tranquilidade se realizar o acompanhamento adequado.”

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