Acordei com o serviço de alto-falante da praça do mercado, lá o locutor Cabelinho de Ouro dizia em sua eterna pérola: Essa musica tem o endereço certo e pela emoção da narrativa tinha mesmo… Assim iniciei o meu dia com um saudosismo tão incomum a minha pessoa, até porque acho que o momento é o agora, o que passou foi lindo mais ficou apenas em nossas melancólicas lembranças… Acho que a maturidade faz com que nos lembremos demais das transições humanas… Somos feitos de momentos e eles são eternizados em nossas memórias afetivas e elas muitas vezes sangram com a saudade de um tempo que não volta mais, mas que tem uma importância absurda em nossa trajetória… Sou um morador da vida toda da Praça Roberto Cintra e cada vez que chego a minha porta e vejo os lugares tão peculiares e agora vazios da existência física mais jamais da existência emocional e sentimental… De um lado vejo as casas dos vizinhos queridos fechadas, ou com placas de aluguel, de venda, ou destruídas para o frio progresso… E agora com outros moradores e sinto o cheiro da infância com a fragrância do descompromisso com o cotidiano, das brincadeiras inocentes e acima de tudo dos moradores inesquecíveis… Tem uma amendoeira secular que fecho os olhos e vejo a minha geração disputando quem mais derrubava amêndoas, apenas para ouvirmos o som do apito do guarda expulsando-nos pela transgressão tão infantil. Sou uma mistura eclética do tradicional com o frescor esperançoso do novo… O antigo tem que ser reverenciado, cultuado e acima de tudo respeitado, somos feitos dos exemplos deixados pelos nossos ancestrais disso nunca duvidei e jamais duvidarei… Mas tem alguns que insistente em não ouvir, em não enxergar, em não valorizar… A história é feita de grandes lições, a trajetória humana é feita de terríveis batalhas e de adoráveis renuncias, pois não somos donos das rédeas do tempo, ele é que comanda que determina e que nos faz refletir sobre nossas equivocadas escolhas… O humano é feito desse material, dessa mistura desastrosa do orgulho, da ilusão e da superioridade… Mas também é feito da mistura mais consistente que é a humildade, a generosidade e a gratidão… Toda manhã vejo um senhor colocar nos troncos dos flamboyants mortos alimentos para alguns micos e isso me enche de alegria e esperança, pois vejo que na essência humana tem ainda o amor ao próximo, a natureza, aos valores familiares e acima de tudo a hombridade de tirar um pouco do seu pouco e alimentar esses animais indefesos soltos, livres na mais pura tradução da palavra liberdade… Vou ficar por aqui embalado em minhas nostálgicas e amorosas lembranças… Muita luz sempre.
Por Alberto Pires
