Margareth Artur / Portal de Revistas USP
O artigo recém-lançado pela Revista de Estudos Culturais, v. 1, n. 5, 2020, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, trata de aspectos políticos da desmobilização popular na luta por seus direitos sociais. À luz da teoria do educador Paulo Freire, as autoras Lisete Regina Gomes Arelaro, professora da Faculdade de Educação (FE) da USP, e Camila Gomes Arelaro Caetano, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), mostram como políticas conservadoras se empenham para “calar os movimentos sociais” e as consequências desta prática para a área da educação. Propõem como pauta reflexões sobre o conceito de “sermos sujeitos históricos capazes de solidariedade e união em torno de propostas diferentes para a vida, para o trabalho e para a escola”.
As autoras centralizam as discussões na transformação social e afirmam que ela só acontece quando “os contextos sociais das pessoas são considerados no processo de formação”, instigando-se os olhares para uma nova visão de mundo, no sentido de buscar princípios da educação crítica e emancipadora. Esse processo de conscientização foi sugerido pelo educador, escritor e filósofo pernambucano Paulo Freire, patrono da educação brasileira e autor do livro Pedagogia do Oprimido, lançado em 1974. Por seu pensamento de educação libertadora, hoje ele é alvo de muitas críticas pelo regime “reacionário”, afirmam Lisete e Camila.
Segundo o artigo, boa parte dos direitos sociais estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 foi retirada pelo grupo político que assumiu o governo em 2016. Nos anos 2013/2014, movimentos democráticos se perderam em meio a interesses políticos de organizações que barraram novos projetos de distribuição justa da renda entre a população brasileira. Nesse contexto, as autoras lembram que o Brasil “não é um país pobre, mas um país extremamente desigual […], somos a 8ª economia mundial e o décimo pior país do mundo em termos de desigualdade de renda”. Uma sociedade não democrática não pode gerar uma educação democrática.
Aqui, elas lembram da perseguição a Paulo Freire e citam o ataque ao educador empreendido pelo movimento Escola sem Partido, “um grupo conservador, racista, homofóbico e elitista que escolheu Paulo Freire como inimigo principal para seus ataques”, que é contra, por exemplo, a inclusão das questões de gênero e diversidade sexual previstos nos planos educacionais e nos projetos das escolas. Paulo Freire não é bem visto porque defende a educação não neutra e considera o ato pedagógico “de natureza política e não técnica”, reflexo de nossa determinação de abraçar um projeto social, visando igualdade e solidariedade: “Enquanto o preconceito de classe, racial, étnico e de gênero perpassar as relações entre homens e mulheres, a educação não será libertadora.”
“Toda educação expressa o conceito de cidadania que temos e praticamos”, que não prescinde do diálogo que gera “a conscientização que transforma”. Paulo Freire, salientam as autoras, tem uma importância histórica “em relação à alfabetização de jovens e adultos e a luta para sua priorização nas políticas públicas”. Freire era a favor da formação permanente do professor, em jornada de trabalho justa, “salários menos imorais”. “Neste momento dramático da educação pública brasileira […], Freire se mobilizaria por saber da frágil formação teórica e prática dos professores, […] apenas reprodutores de conteúdos”, esquecendo-se de suas tarefas humanizadoras como educadores, opinam as autoras.
Artigo
CAETANO, Camila Gomes Arelaro; ARELARO, Lisete Regina Gomes. “Políticas atuais, transformações sociais e a perseguição a Paulo Freire” . Revista de Estudos Culturais, São Paulo, v. 1, n. 5, 2020. ISSN: 2446-7693. Disponível em:. Acesso em: 03 jun. 2020.
Mais informações: Lisete Regina Gomes Arelaro, e-mail liselaro@usp.br e Camila Gomes Arelaro Caetano
Atualizado em 26/06/2020 às 15h31
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