As Marcas Históricas da Depressão
Por Diego Aquino – Psicólogo/Neuropsicólogo – Sábado, 23 de abril de 2020
A Depressão é considerada pela Organização Mundial de Saúde a doença mais incapacitante do mundo, atingindo mais de 322 milhões de pessoas no mundo inteiro. Nas Américas latinas o Brasil lidera o ranking com mais de 5,8% da sua população com algum tipo de depressão, perdendo entre as Américas apenas para os Estados Unidos com 5,9% da população com algum tipo de depressão.
Apesar de hoje a ciência entender a síndrome depressiva como algo complexo e sério, ainda carregamos ideias e crenças tão antigas quanto a humanidade
Podemos encontrar vestígios sobre a depressão desde o século VIII a.C., na Ilíada, o grande poema épico da Grécia
antiga, temos o personagem Belofonte, que padece de grave melancolia, pois,
“[…] objeto de ódio para os deuses, ele vagava só na planície de Aleia, o coração devorado de tristeza, evitando os vestígios dos homens” (Ilíada, versos 200-3). Séculos mais tarde, na mesma Grécia antiga, o fundador da medicina ocidental, Hipócrates (460 a.C.-370 a.C.), afirmava: “Si metus et tristitia multo tempore perseverant melancholicum hoc ipsum” (Quando o medo e a tristeza persistem por muito tempo, constituem a melancolia) (Hipócrates, Aforismos, VI, 23, p.147).
Da mesma forma, na Idade Média, a igreja católica, que era responsável pela separação da mente e do corpo acreditava que os acometidos pelo
pecado da acedia (que pode significar ócio e preguiça), ao que parece, eram melancólicos e também relacionavam o mesmo estado a possessões demoníacas.
O período renascentista é considerado a idade de ouro da melancolia, e, nos séculos XVIII e XIX, esse sentimento penetrou o espírito do romantismo, ainda se acreditava que as influências sobrenaturais eram as causas da melancolia, no entanto algumas teorias de que o corpo poderia influenciar a mente começavam a aparecer.
Durante o Iluminismo as crenças religiosas sobre a melancolia começavam a entrar em declínio, e é então que surge William Cullen, Químico e Psicanalista Britânico que emprega pela primeira vez o termo neurose, e passa a classificar a melancolia como uma alteração das funções nervosas.
O grande historiador das psicopatologias Jean Starobinski, reconhece essas mudanças ao longo do tempo, mas sempre entendendo as marcas deixadas pela história.
A depressão é reconhecida desde a Antiguidade, mudando suas feições de época para época, de cultura para cultura, mas sempre acompanhando de perto o destino do ser humano.
(Starobinski, 2016).
A partir deste breve texto te convido a conhecer semana a semana as faces desta síndrome tão impactante e avassaladora.
Até semana que vem!
Diego Aquino
Psicólogo/ Neuropsicólogo
CRP03/16153
Sincera e fraternalmente
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