por Welber Santos -Quarta, 22 de Janeiro de 2020 – 11:00
Na minha terra natal, Ipirá -BA, mais notadamente no meio dos artistas, a expressão “vá procurar o que fazer” sai do sentido literal e ganha conotação de valoração, de algo que saiu da normalidade e ganhou status supremo, coisa boa que merece ser exaltada, um espetáculo.
Pensando nisso, fiquei a refletir sobre Carlinhos Brown, inclusive me fazendo algumas perguntas:
Será que Brown tem consciência de sua contribuição para nossa música baiana? De sua plenitude artística? Da contribuição histórica que permanecerá eternamente no cenário cultural do país?
Em 2019, Brown não participou diretamente do Carnaval de Salvador. A sensação era que faltava algo, um vazio, angústia musical. É lindo ver o camarote andante. Pra não dizer quando Brown resgatou a Caetanave me levando às lágrimas em plena Carlos Gomes num momento singular do carnaval de Salvador. É sim lindo também toda loucura com falas desconexas, coerentes com o ser Brown, com a musicalidade livre, poética e compassada.
Sim, Brown, sentimos sua falta no carnaval passado. Quem coloca a multidão pra cantar em yorubá nas avenidas? Isto é simbólico, Brown. É fortalecimento de identidade, de autoestima, de afirmação de um povo, de uma cultura. Sentimos muita falta de mais Axé nas ruas, esse Axé musical em que os sons percussivos falam por si só, provocando sensações ancestrais, como também do Axé da energia positiva, da mensagem de paz e da perspectiva de uma vida cotidiana mais leve e bela.
Portanto, Brown, gostaria que pensasse em tudo isso. Sua arte merece ser exaltada. É um simbolismo materializado de nosso Axé, e posso te dizer muito tranquilamente: “Vá procurar o que fazer” e volte para o carnaval agora em 2020. Deixará milhões de pessoas felizes. Tenho certeza.
*Welber Santos é mestre em Educação, Pedagogo, produtor cultural e sócio proprietário da casa de shows Axé Vavá