A presença da Marinha do Brasil na Força-Tarefa Marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL, na sigla em inglês) representa a mais importante participação militar brasileira em uma missão de paz na atualidade. A opinião é do comandante do componente naval da missão, o contra-almirante da Marinha do Brasil Eduardo Augusto Wieland.
Em entrevista à revista Diálogo, produzida pelo Comando Sul dos Estados Unidos, o contra-almirante explica a atuação da Marinha do Brasil na UNIFIL e os benefícios que a participação brasileira traz à operação e a esse ramo das Forças Armadas.
Diálogo: Qual é a atual participação da Marinha do Brasil na FTM-UNIFIL?
Contra-almirante Eduardo Wieland: A Marinha do Brasil contribui com o comando da Força-Tarefa Marítima e oficiais e praças do Estado-Maior — ao todo, 21 —, com um capitão de mar e guerra encarregado do setor marítimo, com dois oficiais no Centro de Operações Navais e com o navio capitânia Fragata União, com 200 militares, que possui uma aeronave embarcada – AH-11A.
A participação da Marinha ocorre em razão da resolução 1.701 do Conselho de Segurança da ONU, que criou uma Força Marítima para impedir a entrada ilegal de armas por via marítima no território libanês e, também, para apoiar o treinamento das Forças Navais e de Segurança do Líbano, até que elas possam executar tais tarefas por conta própria.
Diálogo: Qual é a área de operações, incluindo as tarefas realizadas dentro da Área Marítima de Operação (AMO), e sua importância no contexto operacional?
Contra-almirante Eduardo Wieland: A Área Marítima de Operação é uma região frontal ao Líbano que perfaz uma área de cerca de 5.000 milhas náuticas quadradas. Sua importância reside em ser o acesso aos portos libaneses, que são a espinha dorsal da economia local.
Diálogo: Quais benefícios a participação na FTM-UNIFIL traz à Marinha do Brasil?
Contra-almirante Eduardo Wieland: De forma direta, nos beneficiamos com a oportunidade do adestramento da nossa própria força, com a promoção do papel dos militares entre a sociedade e com o atendimento dos princípios constitucionais (defesa da paz e solução pacífica de conflitos, por exemplo).
Diálogo: A Marinha em breve iniciará as operações do helicóptero modernizado Wild Lynx no Líbano. Que ganhos a aeronave levará às operações?
Contra-almirante Eduardo Wieland: Os novos equipamentos instalados no Wild Lynx possibilitarão a identificação e classificação das unidades de superfície de forma mais rápida, o que proporcionará redução de tempo para verificação de uma mesma área, considerando-se as capacidades das atuais aeronaves até agora empregadas.
Diálogo: Como é a interoperabilidade com marinhas estrangeiras?
Contra-almirante Eduardo Wieland: Quando um navio passa a fazer parte da Força-Tarefa Marítima, ele passa a cumprir as normas da ONU, independentemente de sua origem, capacidade tecnológica e preparo profissional de sua tripulação. A missão em si é ostensiva, não necessita de equipamentos específicos; portanto, a interoperabilidade se faz na adoção de procedimentos comuns com uma língua comum.
Pode-se dizer ainda que operar em um ambiente multinacional onde existe interoperabilidade é bastante gratificante, pois, na essência, todas as marinhas são iguais. Aprendemos muito uns com os outros a respeito das culturas organizacionais de cada um, mas, na essência, somos intimamente semelhantes.
Diálogo: Qual é a importância de se trabalhar na construção da paz internacional?
Contra-almirante Eduardo Wieland: A “defesa da paz”, a “solução pacífica dos conflitos” e a “cooperação entre os povos para o progresso da humanidade” são princípios constitucionais estabelecidos no artigo 4º da nossa Carta Magna. Porém, muito além de estarmos cumprindo um dever constitucional, o sentimento é muito gratificante de podermos estar colaborando, dentro das nossas possibilidades, com a construção da estabilidade e consequente manutenção da paz nesta região tão sensível do planeta.