Uma semana de greve de uma categoria nacional que está ameaçada de privatização e demissão foi o suficiente para mudar o panorama nacional da luta de classes. Mesmo que tenha sido abortada covardemente pela burocracia sindical, essa greve histórica dos trabalhadores dos Correios foi um exemplo definitivo de que há disposição de luta na classe trabalhadora e indica que outras categorias também sairão à luta e também que os próprios ecetistas ainda não deram a última palavra em matéria de mobilização. A partir do dia 2 de outubro, a luta escalará para um patamar superior.
A greve dos trabalhadores dos Correios coloca a luta de classes em um novo patamar
Depois de um primeiro semestre com protestos de estudantes e professores e de uma greve geral muito parcial (14/6) contando apenas com a paralisação dos transportes por algumas horas pela manhã e atos públicos combativos durante o dia, a greve dos Correios ameaçou de fato os planos do governo Bolsonaro/Paulo Guedes. Planos estes orientados pelo imperialismo norte-americano, de arrocho, desemprego, privatização e entrega das Estatais para as multinacionais.
A possibilidade de unificar com outras categorias e promover uma virada na correlação de força entre as classes apavorou não só o governo, com também o TST (Tribunal Superior do Trabalho), a ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) e a própria burocracia, não só dos Correios, mas também da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e das outras Centrais Sindicais, que não moveram uma palha para apoiar a greve.
Na realidade, a greve só aconteceu porque a base da categoria atropelou a direção burocrática e para não ficar muito feio e para manter o controle do movimento, até a Findect (Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios), mais conhecida como a “federação fantasma” ou “federação pelega”, teve que chamar a paralisação. A base só furou o bloqueio da burocracia na terceira tentativa, pois em duas ocasiões os pelegos conseguiram protelar a deflagração da greve: em 1º de agosto, quando a Findect, para dividir, propôs greve a partir de 7 de agosto e no dia 3 de setembro, quando propôs iniciar o movimento em 10 de setembro, tudo com intuito de barrar a greve.
Porém, todas essas manobras protelatórias só serviram para aumentar a temperatura na base. No dia 10/9 a categoria entrou em greve com força, com adesão de 80% a nível nacional, causando grande impacto. Foi a maior greve da categoria desde 1985 e a maior a nível nacional desde a greve dos Petroleiros em 1995.
A burocracia sindical desmontou uma greve histórica sem garantir nenhuma conquista
A burocracia sindical, após ter sido atropelada pela base, retomou as rédeas a partir de uma manobra que o governo impôs por meio da Empresa e do TST. Em tempo recorde a ECT ajuizou e já no dia 12/9 o TST determinou prazo de até o dia 17/9 para encerrar a greve com a promessa de julgamento do dissídio em 2/10. Foi a deixa que a pelegada precisava. A direção burocrática cumpriu sem questionar o script do TST e levou as duas federações (Findect e Fentect) e mais os 36 sindicatos a aceitarem o fim da greve quando ela estava mais forte e sem nenhuma garantia de nada, simplesmente dando um presente para o governo.
Fenômeno interessante a se observar é que quem deu a linha para todos os diferentes setores da burocracia e para todas as organizações que atuam no movimento dos trabalhadores dos Correios foi a federação conhecida como pelega, a Findect, que tem dirigentes filiados, dentre outros, ao MDB e ao PCdoB, e todos ligados à Empresa. Na prática não houve voz dissonante, todas as correntes seguiram a Findect, a começar pela Articulação Sindical (PT) e MRL.
Até o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) naufragou. A burocracia da Conlutas concordou com a linha de suspender a greve, mesmo que de uma forma envergonhada tenha tentado dissimular a sua traição e não denunciou a burocracia que queria desmontar a greve e levar o movimento à derrota.
A LPS (Luta Pelo Socialismo) capitulou miseravelmente. Não quis enfrentar a burocracia. Pelo contrário, se pautou pelo resultado da assembleia de São Paulo (federação pelega) para também trair o movimento. A Intersindical (ou um de seus rachas) acertou na política, mas de forma desarticulada a nível nacional e local, foram tímidos ao defender a manutenção da greve até o julgamento do dissídio.
É a mesma política imobilista aplicada pelo conjunto da esquerda
Nessa greve se repetiu o que acontece na superestrutura do movimento operário, que já estava contido em germe nos governos do PT e que se acentuou após o golpe do impeachment de Dilma Rousseff. Qual seja: entre as Centrais Sindicais há um acordo em seguir uma linha burocrática imobilista ditada pela Força Sindical, a mais pelega das Centrais, que impõe uma linha patronal centralizando politicamente a CUT e as outras Centrais.
E essa posição à direita das direções do movimento de massas responde a uma política de conciliação de classes do conjunto da esquerda onde PT, PCdoB, PSOL e PCB estão tentando formar uma Frente Ampla com PSB, REDE e PDT para disputar as eleições de 2020 e 2022. Para aplicar essa política estritamente pela via da institucionalidade, com prática eminentemente eleitoral, há que se abandonar todo e qualquer protesto para não melindrar os possíveis aliados de centro-direita e até de direita (MDB, Cidadania, e o que mais vier).
Por isso não se estimulou nenhum protesto nas votações da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, e muito menos agora na votação do Senado Federal. E desde as mobilizações da categoria dos educadores, em 15 de maio, o PT e toda a “esquerda” reformista abandonou a consigna de “Fora Bolsonaro”. Pois querem tranquilidade para cumprir o calendário eleitoral da forma menos traumática para o regime burguês em crise.
Esse giro à direita da “esquerda” ficou bem claro no giro à direita das direções ecetistas nessa greve. Aqui vimos a falência da esquerda ao vivo e a cores.
Derrota parcial, mas que não quebrou a disposição de luta da categoria
Nos Correios se abortou uma luta. Dando um fôlego para o governo aprofundar o processo de privatizações. A ECT saiu fortalecida. Não vai ceder em nada e vai seguir na sua proposta de retirar várias conquistas do ACT (Acordo Coletivo de Trabalho). O TST vai favorecer o governo e a Empresa contra os trabalhadores. Essa política nefasta da burocracia tem por estratégia levar o movimento à derrota e manter o controle dos aparatos sindicais de uma forma antidemocrática e truculenta.
O desmonte da greve sem nenhuma conquista, representa uma derrota parcial para os trabalhadores. Destaca-se a parcialidade da derrota, pois a categoria não foi desmoralizada totalmente, ainda há muito espírito de luta, nada foi resolvido e a perspectiva é de se aplicar ainda maiores ataques por parte do Governo, Justiça e Empresa (com sabotagem da burocracia como pano de fundo).
Pela situação de desespero da categoria, sem nenhuma perspectiva de melhora da remuneração por via da negociação (e sim só perdas de direitos) e na iminência de perder os empregos (devido à privatização) é possível retomar uma greve nacional ainda mais radicalizada. Não podemos eliminar essa hipótese, pois não podemos nos desarmar numa situação extremamente crítica e dinâmica como essa.
A suspensão da greve se deu com argumentos de cumprir a decisão do TST e afirmando que se manteria a mobilização para, a partir do dia 2/10, retomar a greve, se necessário. Falácia burocrática para acabar com a greve no auge da mobilização. Mas essa falácia estava ancorada em um dado importante da realidade: que há disposição de luta para seguir a greve após o dia 2/10.
Retomar a greve a partir do dia 2 de outubro
Como sabemos que o governo, o TST e a Empresa não vão conceder as reivindicações e também sabemos que a categoria não está derrotada, mas sim em compasso de espera, o correto é que as federações e os sindicatos programem um plano de lutas nacional, com ações coordenadas para dar continuidade à greve que foi suspensa temporariamente. Agora, é greve a partir do dia 2 de outubro.
Uma resposta que tem que ser dada pela categoria, com urgência, é em relação à falência da direção sindical na condução da mobilização. É urgente retirar de nossas entidades sindicais essas diretorias traidoras, que tiraram a máscara e mostraram suas verdadeiras faces medonhas, pelegas e pró-Empresa. É necessário construir oposições estruturadas na base de cada sindicato, coordenadas a nível nacional, que se contraponha à política imobilista das atuais direções e que elabore a linha nacional para a categoria. A construção de uma nova direção classista e de luta, independente da Empresa e do governo, para dirigir a categoria nos próximos embates que se avizinham é fundamental. Superar a direção burocrática traidora é tarefa inadiável.
A luta contra a política privatista do governo Bolsonaro/Paulo Guedes será impulsionada pelas bases das categorias que estão na lista de privatização. É uma obrigação das Federações e das Centrais Sindicais mobilizar os trabalhadores das Estatais por meio de um Plano de Lutas Nacional para unificar as categorias na construção de uma verdadeira greve geral pela base e por tempo indeterminado até barrar os planos privatistas, de arrocho e demissão do imperialismo aplicado por esse governo capacho.