Ei, Pavão! Não eram hackers russos? O que a PF faz em Araraquara?

Cleber Lourenço: “Essa história não me cheira bem, me incomoda e me preocupa. Espero que não abra caminho para uma perseguição velada contra a liberdade de imprensa no país, que já está tão fragilizada”

Foto: Arquivo

Cleber Lourenço: “Essa história não me cheira bem, me incomoda e me preocupa. Espero que não abra caminho para uma perseguição velada contra a liberdade de imprensa no país, que já está tão fragilizada”

Por Kleber Lourenço

Nunca ficou tão fácil checar a autenticidade do conteúdo da #VazaJato. Eu já tratei disso aqui anteriormente, mas decidi dar uma “vitaminada” nesse assunto.

Para começar, vamos para a autenticidade das mensagens… É só a procuradora Monique Cheker pegar o seu celular, mostrar o conteúdo e falar: “Tá aqui essa conversa, não falei dessa maneira”. Estará provado que o conteúdo foi adulterado.

Todos os diálogos vazados vêm do Telegram de Dallagnol ou partem de algum grupo que Deltan está presente, que como informei, não foi alvo de hacker e, sim, de um descuido com o acesso remoto.

E, então, como o The Intercept Brasil recebeu as mensagens de Deltan Dallagnol e Sérgio Moro? Isso é fácil! ACESSO REMOTO!

E gostaria de lembrá-los: Telegram Desktop tem uma função para EXPORTAR os dados. É só abrir o app, ir em configurações e clicar em “exportar tudo”.

Somado ao fato de não ter NENHUMA conversa de WhatsApp, NENHUM SMS, nada que indique que teve um ataque hacker, afirmo novamente que:

– Veio do computador de Dallagnol;

– Veio via banco de dados (dados exportados);

– Aparentemente, Dallagnol sabe muito bem quem foi.

Em uma das publicações da #VazaJato, 16 procuradores foram envolvidos nas conversas expostas e NENHUM pegou o celular e entregou para a polícia e disse: Não falei isso”. Inclusive, a entrega dos celulares para a Polícia Federal é um ponto de tensão entre os envolvidos, que resistem ainda.

Todos apagaram o app, todos esqueceram se falaram ou não. É o primeiro caso da história onde 16 pessoas apagaram um app e coincidentemente não lembram de nada!!!

Hacker aqui?! CONTA OUTRA! Isso de onde eu venho tem outro nome! Chama-se descuido! Basta ver alguns dos diálogos revelados:

4 de junho de 2016

Isabel Groba – 07:39:57 – Alguém vai hoje ou amanhã na FT? Eu precisava que fosse ligado o computador que eu uso para fazer acesso remoto…

13 de março de 2017

Deltan para Carlos Fernando

13:11:42 Deltan Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador e que outras pessoas não estão vendo por aí, que falo.

Pelo visto o acesso remoto era comum no MPF de Curitiba. Um ano depois da mensagem de Isabel Groba, Deltan mostra ligeira preocupação com o uso indiscriminado do acesso remoto.

Isso explicaria a história bizarra do hacker que tentou invadir o telefone do ex-juiz Moro, dias antes da primeira denúncia do The Intercept Brasil.

Outra coisa interessante é que na transcrição literal dos diálogos, as frases do Dallagnol começavam com letra minúscula. Todo mundo que usa celular sabe que, mesmo quando você quer colocar minúscula de propósito, o teclado fica corrigindo. Reforça o uso do desktop.2.

Alguém, no caso, certamente cantou a bola para o ministro, e então começou a construção da narrativa do “hacker aqui” com Moro, aparentemente para se defender de alguma coisa que estaria por vir.

Agora, alguém acessou os PCs de quem ficava em acesso remoto e entregou tudo de forma deliberada.

A bizarra história do hacker aqui nos grupos do MPF serviria para reforçar a narrativa.

Resta saber se alguém internamente deixou o acesso remoto aberto para registro de propósito ou alguém se aproveitou.

Vale lembrar que o The Intercept Brasil nunca falou da fonte, se era hacker ou não. Moro começou com a conversa como se estivesse se antecipando para algo.

Essa espalhafatosa operação em Araraquara ainda entra em conflito com outro boato muito difundido entre os bolsonaristas e até pela revista IstoÉ, que falavam sobre uma mirabolante teoria sobre hacker russos, pagos em moeda russa.

Outro ponto, a suposta “invasão” do celular de Sérgio Moro é recente segundo o próprio ministro, e as conversas são desde 2015. Logo, mesmo que exista um hacker que, de fato, invadiu o celular do ministro, ele não teria nenhuma relação com as publicações da #VazaJato. Afinal de contas, o próprio ministro afirmou ter apagado as mensagens e, por isso, não se recorda e não pode confirmar a autenticidade delas (palavras do próprio Moro).

Essa história não me cheira bem, me incomoda e me preocupa. Espero que não abra caminho para uma perseguição velada contra a liberdade de imprensa no país, que já está tão fragilizada.

 

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