Com o processo de democratização do conhecimento causado por meio de tudo aquilo que passou a ser disponibilizado pela Internet e do direito que as pessoas passaram a ter de opinar sobre quaisquer temáticas. A superficialidade argumentativa, que é uma das características presentes no senso comum, possibilitou que uma opinião (descuidada) expressada sobre o outro, fosse totalmente capaz de definir o outro. Portanto, não há mais nada que seja necessário conhecer sobre o ser em questão, porém segundo o escritor Oscar Wilde: “Definir é limitar”. E assim tem caminhado a humanidade no mundo virtual com uma limitação discursiva sobre todas diversas temáticas.
Vale analisar os comentários deixados abaixo de uma postagem, um texto ou um vídeo de algum artista brasileiro, por exemplo, no Programa: “Espelho” Lazaro Ramos entrevistando a nutricionista Bela Gil, um jovem de nome Flávio fez o seguinte comentário: “Chatos para um caralho esses crioulos esquerdistas”. Para muitos jovens como Flávio, o fato de saber em quem um artista votou ou o que ele pensa sobre o assunto política partidária, já é suficiente para taxa-lo com alguma frase como essa acima em uma entrevista que não tem nada que ver com a questão de ser de direta ou de esquerda, pois a temática da entrevista foi a alimentação. Ou seja, onde está o respeito ao trabalho educacional da nutricionista Bela Gil e ao ator Lazaro Ramos por toda a sua contribuição artística? Sendo que assim também tem acontecido com alguma exposição de artistas como Fernanda Montenegro, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil etc.
Antes se ouvia a música brasileira para conhecer os estilos, os artistas, os movimentos, a História do Brasil. Agora parece que se um jovem baiano vota nos partidos de direita, não é interessante que ele escute Gilberto Gil por que se trata de um “crioulo esquerdista”. O que é uma redução tamanha do que significa Gilberto Gil para a música brasileira, pois as temáticas abordadas nas músicas compostas por ele vão muito além da sua posição política. Eu espero que as novas gerações consigam romper essas fronteiras ideológicas para explorar o que a cultura brasileira tem a oferecer.
Rodrigo Santana Costa é professor e escritor. Publicou a obra: “Clarecer” em verso e prosa.