Ex-premiê francês é condenado por empregar esposa como fantasma
Por JPS/ots – Segunda, 29 de junho de 2020
Tribunal sentencia François Fillon a cinco anos de prisão e ordena devolução de € 1 milhão em salários indevidos para sua mulher, registrada de maneira fraudulenta como assessora. Ele liderou governo entre 2007 e 2012.
O ex-primeiro-ministro francês François Fillon e sua esposa, Penelope, foram condenados nesta segunda-feira (29/06) por um tribunal de Paris por terem arquitetado um esquema de desvios de verba pública que usava a fraude do “funcionário fantasma”.
A condenação inclui cinco anos de prisão para o conservador Fillon, dois deles em regime fechado, e a uma multa de 375 mil euros. Ele também foi declarado inelegível por dez anos.
Penelope, por sua vez, foi condenada a três anos de prisão em regime aberto e ao pagamento de 375 mil euros.
Um terceiro réu, Marc Joulaud, antigo suplente de Fillon na Assembleia Nacional francesa, foi condenado a três anos de prisão e a uma multa de 20 mil euros.
O trio ainda terá que devolver 1 milhão de euros que foram desviados pelo esquema. A defesa do casal Fillon afirmou que pretende recorrer das condenações.
Ao anunciar a sentença, o tribunal de Paris considerou que Fillon “elaborou e estabeleceu uma organização para permitir desviar dinheiro para seu uso pessoal”.
Escândalo
Fillon é um veterano da política francesa que serviu como primeiro-ministro entre 2007 e 2012, durante a presidência de Nicolas Sarkozy. Em 2017, ele lançou sua própria candidatura presidencial e foi considerado inicialmente um dos favoritos na disputa.
No entanto, em janeiro daquele ano, o jornal satírico e investigativo Le Canard enchaîné revelou que Penelope havia sido contratada como assistente parlamentar do seu marido entre 1998 e 2002, e posteriormente de Marc Joulaud até 2007, num período em que o suplente substituiu Fillon na Assembleia Nacional enquanto este ocupou diversos postos ministeriais.
Nos dois casos, o jornal apontou que não havia qualquer indício de que Penelope tenha efetivamente desempenhado qualquer trabalho substancial. Mesmo assim, ela recebia mensalmente somas que chegavam a 4.600 euros. Membros da Assembleia Nacional francesa podem contratar parentes, mas têm que provar que eles desempenham funções legítimas.
No caso de Penelope, ex-assessores de Joulaud afirmaram ao jornal que nunca haviam trabalhado efetivamente com a esposa de Fillon. Ela nunca teve um endereço de e-mail da Assembleia ou um crachá do local. Também nunca pediu benefícios como pagamento de férias em todos esses anos.
E as suspeitas envolvendo Penelope não incluíam apenas assessoria parlamentar. Ela também era empregada como “consultora literária” por uma revista francesa, recebendo 100 mil euros em honorários. A revista pertencia a um amigo de Fillon, o empresário Marc Ladreit de Lacharrière, um dos homens mais ricos da França.
Investigadores também não encontraram indícios de que ela tenha desempenhado qualquer trabalho substancial na publicação. Um ex-editor da revista afirmou que nem mesmo foi informado de que havia um cargo de consultor literário no veículo.
Inicialmente, Fillon argumentou que Penelope havia desempenhado funções como edição de discursos e representante em eventos quando trabalhou na sua assessoria parlamentar.
Mas a situação piorou quando o jornal revelou que Fillon havia direcionado mais de 80 mil euros do seu gabinete para seus dois filhos, sob a justificativa de que eles elaboraram pareceres jurídicos e que o valor estava de acordo com a tabela de honorários advocatícios. Só que os filhos eram apenas meros estudantes de direito quando receberam o dinheiro.
A imprensa francesa também voltou a exibir uma velha entrevista concedida por Penelope em 2007 para um jornal britânico, em que ela afirmava nunca ter trabalhado como assistente do seu marido.
Outros jornais ainda revelaram que Fillon recebeu de empresários roupas avaliadas em quase 50 mil euros e relógios que custavam 10 mil euros.
A sucessão de escândalos abalou a candidatura de Fillon em 2017, mas ele insistiu em continuar na disputa, atribuindo os escândalos a uma “tentativa de golpe institucional” promovida pela “esquerda”. Ele acabou em terceiro lugar no pleito, ficando fora do segundo turno, com 20% dos votos.