Google rompe com a Huawei, cujos celulares ficarão sem ‘apps’ e atualizações

O Google suspendeu negócios com a Huawei que precisam da transferência de produtos de hardware e software, com exceção dos cobertos por licenças de código aberto, de acordo com publicação da agência Reuters do domingo citando uma fonte próxima ao assunto.

Uma mulher passa em frente a um logotipo da Huawei, neste domingo em Paris. GETTY

A decisão foi tomada após Governo Trump incluir a companhia chinesa em uma lista de empresas proibidas

REUTERS
RAMÓN MUÑOZ

O Google suspendeu negócios com a Huawei que precisam da transferência de produtos de hardware e software, com exceção dos cobertos por licenças de código aberto, de acordo com publicação da agência Reuters do domingo citando uma fonte próxima ao assunto. A decisão foi tomada após o Governo Donald Trump incluir a companhia chinesa em uma lista de empresas proibidas.

Dessa maneira, a Huawei pode estar à beira da maior crise desde que a Administração Trump declarou guerra à empresa, a quem acusa de espionagem. Com a medida, a chinesa perderá acesso às atualizações do sistema operacional Android, com o qual todos os seus smartphones funcionam, e a próxima versão de seus celulares também não terá aplicativos e serviços populares como a loja Google Play Store e o serviço de e-mails Gmail.

Os detalhes dos serviços específicos que serão vetados continuavam sendo discutidos internamente no Google, propriedade da Alphabet Inc, de acordo com as mesmas fontes. Os advogados da Huawei estão avaliando também o impacto das ações do Departamento de Comércio, disse um porta-voz da empresa chinesa na sexta-feira.

A empresa asiática ainda terá acesso à versão do Android disponível através de licenças de código aberto, disponíveis para qualquer um que quiser usá-las. O Google, entretanto, deixará de prestar colaboração e respaldo técnico a Huawei para seus serviços, de acordo com a fonte.

O Governo de Donald Trump incluiu na quinta-feira oficialmente a Huawei em uma lista negra comercial, estabelecendo imediatamente restrições que complicarão muito os negócios do gigante tecnológico com empresas norte-americanas. A Huawei não pôde ser contatada de imediato para comentar a situação. Representantes do Departamento de Comércio também não falaram sobre a informação, segundo a Reuters.

Uma catástrofe sem precedentes

Se o veto do Google se confirmar, será um duro golpe para a Huawei que não terá outro remédio a não ser inventar seu próprio código operacional, já que todos os seus celulares hoje funcionam sob o sistema operacional Android da multinacional norte-americana. O Android representa 85% do mercado mundial de sistemas operacionais e quase todo o restante está em poder do iOS da Apple. Na Espanha, o domínio é ainda maior, já que está instalado em 9 de cada 10 celulares espanhóis e em 8 de cada 10 celulares europeus.

Mesmo se puder criar do nada um novo sistema operacional, o fabricante chinês teria muitas dificuldades em convencer seus potenciais compradores, porque além disso ficariam sem aplicativos. 70% dos downloads de aplicativos são feitos na loja online Google Play Store, e 22,6% pela Apple Store.

O veto do Google também pode acabar com as ambições da Huawei de ser o maior vendedor de smartphones do mundo. Apesar do boicote norte-americano aos seus aparelhos, 2018 foi definitivamente o ano da Huawei. A empresa chinesa vendeu 202,9 milhões de celulares em todo o mundo, graças um aumento espetacular de suas vendas de 34,8%. Mesmo que apesar desse aumento continue na terceira colocação como fabricante mundial de celulares, está nos calcanhares da Apple para tomar o segundo lugar, e ainda está longe da Samsung, que lidera o pódio.

A medida terá fortes repercussões na Espanha onde a empresa chinesa é um gigante das telecomunicações apesar de ter chegado no país em 2001. De fato, é o único fabricante que está presente tanto na infraestrutura de redes como nos celulares. E não é uma presença qualquer. A empresa chinesa se consolidou como o primeiro provedor de redes tanto de banda larga fixa (fibra e ADSL) como móvel (4G) e trabalha com todos os operadores nacionais de telecomunicações (Telefónica, Vodafone, Orange e MásMóvil).

Paralelamente, se consolidou como o segundo vendedor de smartphones na Espanha, posição que ocupa desde maio de 2015, atrás somente da Samsung e ultrapassando a Apple. Atualmente, quase um de cada três celulares vendidos na Espanha é da Huawei, que possui uma cota de mercado de 28%. Desde que em 2010 começou a comercialização de celulares inteligentes sob o sistema operacional Android, perdeu a imagem de fabricante de celulares chineses e baratos e conseguiu colocar seus aparelhos entre os mais avançados do mundo, disputando a liderança de última geração tanto com a Apple como com a Samsung.

Ordem de Trump

O presidente Trump declarou na quarta-feira uma emergência nacional para proteger as redes de telecomunicações norte-americanas, através de uma ordem executiva que dá poderes ao Governo federal para proibir empresas de contratarem provedores estrangeiros. A medida, que de fato constitui uma barreira à empresa chinesa Huawei, ainda que não a mencione, significa uma nova escalada na guerra comercial com o gigante asiático.

A ordem executiva dirigida ao secretário de Comércio, que deverá elaborar um plano para que seja colocada em prática, invoca uma lei que confere ao presidente a autoridade de regular o comércio em resposta a uma emergência nacional que ameace os Estados Unidos. É justificada no suposto aproveitamento das vulnerabilidades da tecnologia de telecomunicações norte-americana por parte de adversários estrangeiros, e aponta a espionagem industrial como particularmente preocupante. A medida, que era especulada há meses, significa um novo recrudescimento na guerra comercial e de segurança com a China e constitui a mais contundente ofensiva até agora contra seu setor tecnológico.

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