Polícia Federal investigava gravação de 260 horas na cela do doleiro Alberto Youssef
Por Juliana Almirante
Antes mesmo de concluir as apurações, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba solicitou, de maneira “abrupta e antecipada” o arquivamento de um inquérito da Polícia Federal (PF) acerca da instalação de um grampo na cela do doleiro Alberto Youssef em março de 2014.
A informação é do delegado responsável pelo caso, Márcio Magno Carvalho Xavier, de acordo com a Folha.
À época, a investigação tentava descobrir o que causou a instalação da escuta e se houve tentativa de cobrir o caso internamente.
“Os procuradores atipicamente requerem o arquivamento do inquérito policial, antes mesmo da realização de diligências básicas e da confecção do relatório final”, afirmou o delegado Márcio Magno Carvalho Xavier, em manifestação à Justiça Federal, em documento foi assinado em junho de 2017.
Á época corregedor de assuntos internos da Polícia Federal, em Brasília, Magno Xavier tentava estender o prazo do inquérito.
Mesmo com o posicionamento da PF, o pedido do Ministério Público Federal (MPF) para engavetar o caso foi deferido pelo juiz federal do Paraná Nivaldo Brunoni.
O magistrado chegou a atuar em processos da Lava Jato ao substituir juízes em férias do TRF-4 (Tribunal Regional Federal). Brunoni é o mesmo que determinou no último mês que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) retirasse de pauta julgamento da suspeição do chefe da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol.
Os autos continuam em sigilo até hoje, embora estejam arquivados, no entanto, o documento em que o delegado Xavier se queixa do procedimento dos procuradores foi obtido pela Folha e publicado hoje (9).
Laudo técnico apontou que foram gravadas 260 horas na cela e captadas falas de outros detidos da Lava Jato, como o ex-gerente da Petrobras Paulo Roberto Costa e a doleira Nelma Kodama.
O inquérito foi aberto inicialmente para apurar suspeita de falsidade ideológica em documento que o agente Dalmey Werlang, responsável pela instalação do grampo, teria produzido sobre o caso.
As apurações avançavam a fim de verificar quem teria ordenado ao agente a instalação da escuta na cela e se houve tentativa de esconder. a descoberta do material. Foi quando houve a interrupção das diligências e a soliticação do arquivamento pelo MPF.
A manifestação de Magno Xavier à Justiça é recheada de críticas ao pedido de arquivamento do inquérito feito pelos procuradores. Ele reclamou do que enxergava como impedimento das atividades da polícia por parte do Ministério Público Federal (MPF).
Outro lado
Procurada pela Folha, a força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) de Curitiba defendeu que “não comenta inquéritos policiais arquivados”.
“É necessário esclarecer, porém, que o entendimento do MPF para o arquivamento do inquérito mencionado pela reportagem do jornal Folha de S.Paulo está estampado na respectiva manifestação processual, o qual foi apresentado ao juiz federal competente e devidamente homologado”, disse.