Livro explora os antagonismos do maior militar do século 20

“O General Estadista – Douglas MacArthur e o Século Americano” destaca as nuances das ações do general

General do Exército (cinco estrelas) Douglas MacArthur, 1945. Foto: Reprodução / “Douglas MacArthur – O General Estadista”

“O General Estadista – Douglas MacArthur e o Século Americano” destaca as nuances das ações do general


Por Larissa Santos – Editorias: Cultura – URL Curta: jornal.usp.br/?p=238242

 

Cada nação tem seus ídolos – pessoas que, por seus feitos militares, atléticos ou políticos, abraçaram valores que moldam os princípios de um povo. Esses heróis compõem um imaginário histórico que simboliza os ideais de um país em um capítulo encerrado. Por mais que produções culturais não tenham a responsabilidade de reviver esses personagens em sua forma mais complexa, o estudo e pesquisa da história pode propor quadros quase nítidos de antigas personalidades. O livro O General Estadista – Douglas MacArthur e o Século Americano, de Sean Purdy, professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, se aproxima ao máximo de reconstruir o “mito” Douglas MacArthur em sua forma mais real. A obra integra a Coleção Entr(H)istória, que publica trabalhos de professores e alunos do Programa de Pós-graduação em História Social da FFLCH, através da Editora Intermeios.

Para desvendar o general estadista, o professor Sean Purdy mergulhou nos registros sobre a vida de MacArthur. Documentos oficiais, escritos do próprio Douglas, memórias de seus oficiais e artigos foram a base primária da pesquisa. Mas, para entender um oficial do século 20, é necessário entender o país onde ele está inserido. O contexto norte-americano, em meio às duas Guerras Mundiais e à Guerra Fria, é objeto de estudo secundário da obra. Assim, a pesquisa se amplia para revistas, biografias e artigos que discutem espaço, tempo e cenário em que MacArthur atua.

Fuzileiros Navais, Boungainville, Ilhas Solomão, janeiro de 1944. Esses soldados foram essenciais para a tomada de ilhas durante as campanhas no Pacífico. Foto: Reprodução / “Douglas MacArthur – O General Estadista”

Douglas MacArthur nasceu para fazer carreira militar, literalmente. Filho do herói da Guerra de Secessão (1861-1865) Arthur MacArthur Jr., ele nasceu em 26 de janeiro de 1880, na base militar de Little Rock, no Arkansas, nos Estados Unidos, onde o pai era capitão de infantaria. Os relatos de MacArthur contam a forte influência de seus pais para que seguisse os passos da família. Mudando constantemente de casa devido ao fato de o pai ser designado para diferentes postos, MacArthur frequentou escolas militares pelos Estados Unidos, onde começou a trilhar uma carreira de destaque.

Ele se formou em 1903 na Academia Militar dos Estados Unidos, de West Point, com notas máximas em disciplinas acadêmicas, ocupando o pódio dos melhores alunos da história do colégio. Começa então uma carreira sinuosa, em que MacArthur demonstra genialidade em manusear seu talento militar, sua rede de contatos e sua habilidade como figura pública.

Antes de enfrentar campos de batalha e treinar soldados, MacArthur trabalhou na capital norte-americana, Washington, onde aprendeu bem o jogo político. Atuando ao lado do presidente americano Woodrow Wilson, foi o primeiro porta-voz das Forças Armadas, em 1916. Em meio à Primeira Guerra Mundial, ele precisava defender, ou melhor, vender para o público e para a mídia a importância do alistamento obrigatório no períodos de guerra. No cargo, MacArthur caiu nas graças de jornalistas e de seus superiores, por executar bem sua tarefa.

Alguns episódios militares são essenciais para entender sua carreira, entre estes estão: atuação na França entre 1918 e 1919 e como Marechal do Exército Filipino entre 1935 e 1941.

A participação americana na 1ª Guerra foi essencial para a vitória da Tríplice Entente, composta por Reino Unido, França e Império Russo. O debute em confronto armado de MacArthur se deu em Lunéville no início de 1918. No posto de Brigadeiro-General, segundo no comando da Divisão 42, construída e treinada por Douglas, o militar começa a demonstrar sua personalidade em campo. “Foi na Primeira Guerra Mundial que MacArthur desenvolveu um complexo paranoico, culpando colegas “inimigos” pelos obstáculos enfrentados nas suas operações militares e na sua carreira”, comenta o autor na obra.

O comandante ainda usava de excentricidades para se destacar, como o uso de uniformes ‘não-ortodoxos’, táticas de guerra individualistas, e até mesmo ofuscar companheiros de comando, atribuindo para si toda a glória de uma conquista. Ao mesmo tempo que a estratégia ofensiva com manobras flexíveis de infantaria, foram efetivas para vitória de prestígio, mesmo que custasse a vida de milhares de soldados americanos, lhe renderam  popularidade dentro e fora das forças armadas.

A ascensão na França, lhe renderam frutos no futuro. “Esse sucesso foi crucial para a carreira de MacArthur e o ajudou a chegar ao cargo de chefe do Estado-Maior uma década depois”, aponta Sean Purdy. Seu mandato foi controverso sendo chamado de “tirano” pela mídia, por esmagar uma manifestação de 40 mil veteranos de guerra, com gás lacrimogêneo e tanques de guerra.

Após seu mandato no cargo militar mais alto dos Estados Unidos,  foi enviado para as Filipinas como Marechal do Exército Filipino por seis anos. Nesse período o historiador destaca inúmeras “rivalidades pessoais e profissionais” entre o Marechal e outros oficiais. No país a situação financeira para a criação de um exército era cara para o governo americano. Levado por interesse pessoais, como poder e privilégios. Sobre as várias cartas que enviava para Washington aumentando o progresso de seu exército, Sean Purdy faz menção ao historiador Richard Frank de “enunciar o estado de coisas que ele desejava, ao invés de como era”.

Capa de “O General Estadista – Douglas MacArthur e o Século Americano” de Sean Purdy

Na primeira metade do século 20, a figura militar tinha forte atuação política. A experiência militar era essencial para uma carreira no governo, assim como contatos e vínculos políticos eram fundamentais para uma ascensão militar. Por isso é impossível entender MacArthur sem entender o governo americano.

O autor de “O General Estadista” se preocupa sempre em ambientar o leitor durante a obra. “Ao longo do livro, há uma tentativa de colocar MacArthur dentro de contextos históricos particulares para mostrar sua atuação frente a forças históricas mais amplas, em especial a expansão do capitalismo e imperialismo norte-americano.”

Desta forma, decisões militares, estratégias e até o narcisismo de MacArthur são discutíveis do ponto de vista histórico. O patriotismo e o heroísmo em estar em frentes de batalha, traçar táticas infalíveis de guerra e defender os ideais americanos, o classificam como um protagonista bem-intencionado. Por outro lado, os muitos desentendimentos com superiores, declarações mentirosas, atitudes sinuosas e excentricidades, demonstram sua personalidade egoísta e ambiciosa.

Sean Purdy por tornar Douglas MacArthur um personagem a ser explorado, desmonta a imagem maniqueísta do militar vilão ou herói, e põe lado a lado em sua narrativa atitudes e motivações na carreira militar, política e até mesmo como homem. Além disso, por entendê-lo sob uma ótica Marxista de ser o produto do contexto onde vive, a figura de Douglas se expande e se torna elemento integrador de um mundo em guerra.

.

 

 

Aviso:
Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do IpiraCity. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ou direitos de terceiros.
Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.