Memórias Pueris

Era inverno São Pedro abria as torneiras do céu Íamos de uma ponta a outra da rua passando por debaixo das biqueiras A Biqueira mais forte foi a da casa de dona Maria, dizia Beto

Foto: Rodrigo

MEMÓRIAS PUERIS

Era inverno

São Pedro abria as torneiras do céu

Íamos de uma ponta a outra da rua passando por debaixo das biqueiras

A Biqueira mais forte foi a da casa de dona Maria, dizia Beto

 

As sandálias eram os seus barcos

Todos teriam que soltar das mãos na hora do “já”

Um, dois, três e Já…

A sandália que chegar primeiro ao final da rua é a campeã, dizia Tadeu

 

O Arco-íris apareceu

Vamos correr até alcançar dessa vez, dizia Jirigue

Mais toda vez que a gente chega perto, ele se afasta do lugar, dizia Hebinho   

 

Os olhares de todos estavam apontados para o céu

A expectativa do cair das tanajuras

Quando a primeira caiu no meio da rua, os meninos cantaram

Cai cai Tanajura na panela da gordura”.

 

Depois de algumas horas

Estavam todos encharcados e sentido muito frio

A chuva perdeu a graça

Desenha o olho de um boi na areia que a chuva passa, dizia Bibiu

 

poderiamos pegar as nossas pipas para empinar?

Mais ainda está sem vento!” disse Erick

Eu canto a música que chama o vento, disse Digão

“Vem São Lourenço com a sua cabacinha de vento.”

 

O céu deu de escurecer

As mães começam a gritar o nome dos seus filhos do portão de suas casas

É hora de voltar para dentro de suas tocas

Digão e suas duas irmãs fizeram cabana com a coberta e contavam estórias de assombração a noite inteira.


 

Rodrigo Santana Costa é professor e escritor. Publicou a obra: “Clarecer” em verso e prosa.              

 

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