De 2014 a 2019, salsichas contaminadas causaram pelo menos três mortes na Alemanha. Porém documentos vazados do Ministério do Consumidor revelam intenção de reduzir as inspeções em estabelecimentos alimentares.
A organização alemã de consumidores Foodwatch expressou perplexidade quanto a supostos planos governamentais de reduzir a frequência dos testes de segurança nas fábricas de alimentos. As mudanças no regime de inspeção coincidem com escândalos fatais envolvendo carne, que abalam a confiança da população.
Segundo documento interno do Ministério da Alimentação, Agricultura e Proteção do Consumidor da Alemanha, vazado e publicado em novembro pela Foodwatch, inspeções obrigatórias em instalações de “alto risco”, como fábricas de salsichas, poderiam ser realizadas a cada trimestre, em vez de mensalmente. Em outros locais de alto risco, os controles passariam de diários a semanais.
O anúncio coincide com um maior grau de apreensão com a segurança sanitária no país. Em outubro emergiram relatórios de que entre 2014 e 2019 houve três mortes e 37 casos de intoxicação relacionados à companhia Wilke, sediada em Hessen, onde foram encontradas salsichas contaminadas com a bactéria listeria.
Seguiram-se recalls de carne exportada em âmbito mundial. O caso evoca o escândalo da salmonela de 2015, em que ovos contaminados mataram pelo menos uma pessoa na Baviera.
Para a ONG, a redução representa “um maciço enfraquecimento da segurança alimentar na Alemanha”: “Os planos são completamente insanos”, declarou em comunicado seu diretor, Martin Rücker, para quem “controles de segurança alimentar não podem depender da situação orçamentária nem de capricho político”.
Na Alemanha, a frequência das inspeções alimentares é determinada por uma avaliação de risco dos estabelecimentos em questão, com açougues sendo inspecionados com frequência maior do que lojas que só vendem comida empacotada.
Justificando a nova proposta, a ministra alemã da Alimentação, Agricultura e Proteção do Consumidor, Julia Klöckner, declarou que os exames precisavam ser modernizados e regulados em todo o país, com “os recursos para controles oficiais de segurança alimentar focados mais efetivamente em ‘estabelecimentos-problema'”. Ou seja, negócios com ficha limpa seriam menos controlados do que outros.
No caso da fábrica de salsichas Wilke, o jornal local Waldeckische Landeszeitung noticiou neste sábado (14/12) que entre 2015 e 2017 foram realizadas apenas nove inspeções, embora 22 estivessem agendadas. Na época, a Wilke constava da terceira mais alta categoria de risco, significando que deveria ser submetida a um exame por mês.
O Ministério da Agricultura culpou as autoridades locais pela negligência, alegando que, caso informado, teria ativado a força-tarefa ministerial especificamente destinada a tratar desse tipo de lacuna. Segundo a associação de inspetores sanitários da Alemanha, porém, há falta de cerca de 1.500 profissionais no país.
Nesta sexta-feira, em reação direta ao escândalo da Wilke, o parlamento estadual de Hessen aprovou uma emenda dando mais poder ao Ministro do Consumidor para intervir em questões locais de segurança alimentar.