Intérprete de Libras, esposa de Bolsonaro diz que quer atuar em projetos para pessoas com deficiência, ribeirinhos e comunidades no sertão.
Por Equipe HuffPost
Reservada, religiosa e com muita influência sobre o presidente eleito. A futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, que estará ao lado do marido Jair quando ele receber a faixa presidencial nesta terça-feira (1º), assumirá o novo papel com a promessa de atuar em “todos os projetos sociais possíveis”.
Intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) nos cultos da Igreja Batista Atitude, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, Michelle, 38 anos, justifica a determinação em trabalhar pelo próximo pelo chamado que diz ter recebido de Deus.
“Poder ajudar, para mim, é algo primordial. É uma característica que eu tenho, que Deus colocou na minha vida. Essa sensibilidade vem dele, de sentir a dor do próximo. Eu vejo o caráter, eu vejo a identidade de Deus na minha vida. E quero fazer a diferença, sim”, disse Michelle em entrevista exibida pela TV Record em 28 de outubro, poucas horas após o anúncio da vitória de Jair Bolsonaro (PSL) nas urnas.
Seu trabalho com pessoas com deficiência, diz ela, é uma resposta a essa missão.
No programa eleitoral de Bolsonaro, do qual participou poucas vezes durante a campanha na TV, Michelle contou que tem um tio surdo e que esse contato lhe despertou o interesse por Libras. Começou a estudar por conta própria e aprendeu sozinha a língua de sinais.
“Libras, para mim, é o amor maior, é algo que me emociona. Sou apaixonada por eles, pela língua, pelas pessoas”, disse à Record.Não por acaso, praticamente todo pronunciamento de Bolsonaro nas redes sociais é acompanhado por um intérprete de Libras, algo que começou a fazer ainda durante a campanha – e um forte sinal da influência da esposa.
Eu tenho um chamado para a ação social. É algo que Deus colocou na minha vida, no meu coração.
Michelle Bolsonaro
A futura primeira-dama começou a ser vista mais após a eleição de Bolsonaro. Mesmo assim, não costuma fazer aparições públicas, tampouco falar com a imprensa. Quando repórteres tentam descobrir mais sobre Michelle por meio de terceiros, são informados de que a família não autoriza o repasse de informações. No dia a dia, a blindagem conta com o reforço de uma equipe de seguranças.
Embora sinalize que não terá uma atuação apagada como primeira-dama, Michelle Bolsonaro diz que vive “um dia de cada vez” e que não sabe como será a vida entre o Palácio do Planalto e o Alvorada, que visitou recentemente, ciceroneada pela atual primeira-dama, Marcela Temer. “Não faço ideia de como seja, não faço ideia de como será”, disse, na mesma entrevista à TV.
Ela adiantou, porém, que além de lutar pelos direitos das pessoas com deficiência, quer trabalhar com populações ribeirinhas e fazer “missões no sertão”. “Tenho muita vontade de que essas pessoas melhorem de vida, porque o Brasil é muito rico, só é mal administrado.”
Casamento com Bolsonaro
Natural de Ceilândia, uma das cidades do Distrito Federal, Michelle de Paula Firmino Reinaldo (nome de solteira) retornará a Brasília após quase 10 anos.
Ela trabalhava como secretária parlamentar na Câmara dos Deputados em 2007, quando conheceu Jair Bolsonaro, 25 anos mais velho.
Em setembro daquele ano, aceitou o convite do então deputado para trabalhar com ele e foi nomeada secretária parlamentar do gabinete. Nove dias após a contratação, o casal recém-formado firmou um pacto antenupcial, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo. O casamento civil ocorreria dois meses depois, e, em 2008, Michelle foi exonerada do cargo, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que proibia o nepotismo na administração pública.
A cerimônia religiosa só aconteceu em 2013 e foi celebrada pelo pastor Silas Malafaia, amigo do casal, na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no Rio, igreja que Michelle frequentava.
Bolsonaro é católico, mas costuma frequentar os cultos evangélicos com a esposa. Ele também foi batizado no rio Jordão, em Israel, em 2016, pelo pastor Everaldo.
O presidente eleito costuma dizer que as diferenças religiosas não são um problema para o casal. Recentemente, ele atacou uma reportagem da Folha que dizia que, a pedido de Michelle, obras de arte com imagens sacras seriam transferidas do Palácio do Alvorada, onde vai morar a família, para o Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente. Evangélicos não veneram imagens de santos.
“É mentira. Minha esposa não falou absolutamente nada. Eu sou católico, ela é evangélica, e nos respeitamos. Entre nós não existe conflito religioso, somos cristãos”, disse Bolsonaro em uma transmissão pelas redes sociais.
Cheque suspeito
A crise gerada pelo suposto pedido de remoção das obras de arte sacra, porém, não foi a primeira envolvendo a futura primeira-dama.
Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontou que um ex-assessor de Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito, movimentou mais de R$ 1,2 milhão de forma atípica em um ano, abrindo a primeira grande crise no novo governo, antes mesmo da posse.
Uma das movimentações feitas por Fabrício José Carlos de Queiroz, diz o relatório, foi o depósito de um cheque de R$ 24 mil para Michelle. Bolsonaro afirma que o repasse se deve ao pagamento de uma dívida que Queiroz tinha com ele.
Flávio e os irmãos Carlos e Eduardo são filhos de Bolsonaro com Rogéria, primeira esposa do presidente eleito. O quarto filho, Renan Bolsonaro, é do casamento com Ana Cristina Valle. Com Michelle, Bolsonaro teve a filha Laura, de 8 anos. A futura primeira-dama ainda é mãe da adolescente Letícia, fruto de um relacionamento anterior.