Na transeunte avenida do prazer
O despejo
Não é mais desejo,
É abutre
As pernas inquietas
As artérias
Travando guerras para a circulação
As curvas na estrada
Lhe faz pensar em Deus
Um Deus
Um Deus momentâneo
Para hora do perigo
E o pensamento acelerado, embaralha,
mistura
Desorganiza
Desordena
Feito entulho
Em que nada
Prende a atenção…
Nada é solidez
O corpo polido,
Envernizado
Em perfumes
E banhos demorados, de acinzentar a pele
Como se o perfume adentrasse os poros da alma…
Que engano!
Que engano!
A comida engolida errada
O engasgo
O rasgo da calma
A comida
O planeta,
A formiga que
Caminha
Sobre a parede
Ah,
Que fique em destaque e em negrito:
Vive
Neste mundo
Quem gerencia
A emoção
E adminstra o tempo.
Abstrato é o sentir.
Vertigem, tontura conformada
Resistida
Convertida
Transmutada
No despejo
O despejo é a melhor palavra.
Nela se descarrega
A tensão
A voz que vocifera
Em desequilíbrio
A paz
Mascarada
De fantasia
E procrastinação.
E a necessidade
Do dizer
Do mostrar-se ao mundo:
Ei estou vivo!
Uma tentativa repetida
De sentir-se não sentindo,
Em estado de morfina
Para não sentir a dor…
Os puteiros andam lotados
Os gritos nos estádios de futebol
As igrejas
Os templos…
As carnes esfareladas nos dentes
Como um leão esfomeado
A espera
De um gozo
Um nirvana
Um êxtase
Um passatempo
Inconsciente
Em troca
De alívio
Alivio imediato.
Pobre tentativa…
Como essa tentativa
De escrever
De despejar
Palavras
Contributivas
Entrelinhadas
De vaidade e autoafirmação
Em que muito
Relato
E não aponto. Apenas consto.
Por Leonardo Gusmao Dultra