Um dia desses estive juntamente com alguns irmãos em um gabinete de uma autoridade constituída, por necessidade de autorização para a realização de um evento
O vaivém de assessores, de pessoas aguardando audiência etc. era frenético.
Ao entrar, o vi como um homem comum. Um lanche parcialmente comido sobre a mesa, cabelos embranquecidos bem diferentes do que vi anos atrás quando o conheci, e uma pilha de papéis desarrumados diante dele.
Dois telefones celulares, que alternadamente atendia, enquanto tentava nos dar atenção. Ao fim daquele momento, ele levantou-se para sair e atender um compromisso, quando eu o interrompi: “Antes de sair, o senhor teria um minuto para Deus? Eu gostaria de orar pelo senhor, sua família e seu mandato!”
Político como todos os outros não poderia negar o pedido, mas o seu olhar não era de desgosto, mas de ânsia como um sedento em busca de um gole de água. E aí, lembrei-me de Jó.
Em meio ao sofrimento, o patriarca pensou como seria bom ter uma audiência com o Altíssimo e apresentar a sua causa. Está escrito:
“Ah, se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante ele a minha causa, e a minha boca encheria de argumentos. Saberia as palavras com que ele me responderia, e entenderia o que me dissesse. Porventura segundo a grandeza de seu poder contenderia comigo? Não: ele antes me atenderia. Ali o reto pleitearia com ele, e eu me livraria para sempre do meu Juiz.”( Jó 23:3-7)
O problema de Jó era tríplice: em meio à dor não sabia onde encontrar o alívio, em meio à dúvida queria achar respostas e principalmente, na angústia buscava ansiosamente algum acolhimento.
Os poderosos deste mundo tem um sério problema. Eles podem muito, mas não podem tudo, e de tão acostumados a poder, não sabem bem a recorrer quando se vêem diante do limite do seu poder.
Eu tenho uma opinião que talvez lhe soe incompreensível ou inaceitável.
Indubitavelmente, a raiz da corrupção que grassa no nosso país tem a ver com a natureza decaída do ser humano, cheio de ambição, ganância e afastamento de Deus.
Porém, há uma porção significativa que eu chamo de “o desespero do não poder”. Explico.
O poder inebria e dessensibiliza a pessoa. Alguém que com uma “canetada” pode fazer muito, frequentemente se vê iludido com a impressão de que pode tudo. Daí, a prática comum da “carteirada”, do “sabe com quem está falando?” etc.
Como o Todo Poderoso não divide a sua glória com ninguém, a vida mesmo se encarrega de mostrar que a ilusão do controle e do poder é só isso mesmo: uma ilusão.
No caso de Jó, a ideia de que poderia controlar até mesmo a espiritualidade e a devoção dos filhos foi confrontada com a sucessão quase interminável de perdas, inclusive dos filhos, que ele sofreu.
No caso dos poderosos é quando não podem fazer tudo o que querem que as portas do ilegal, do imoral e do mal se escancaram como bocas atraindo-os para devorá-los.
Eles buscam se locupletar com outros, mais ou menos poderosos do que ele, seja pelo dinheiro ou pela posição que possuem, como uma forma de continuidade do seu poder a serviço do seus desejos carnais.
Tudo que eles precisariam é de um encontro com Deus. Não necessariamente um encontro religioso, em um templo de qualquer religião.
Um encontro existencial, íntimo e espiritual com o Todo Poderoso, que lhes mostre que o poder que tem lhes foi dado para o serviço ao Criador e ao próximo.
Eles aprenderiam que poder limitado é dádiva divina. Poder ilimitado em mãos humanas é maldição.
Enfim, orei por aquele homem. Abrimos os olhos, ele olhou para mim e disse: “Eu sou um homem inteligente, por isso eu temo a Deus”. Eu respondi: “Seja um homem temente a Deus e Ele lhe dará sabedoria para governar bem”.
Com carinho,
Robinson Grangeiro Monteiro.
Fonte:ipb.org.br