Novos polos industriais crescem 32% em microrregiões do país, aponta Ipea
Data de publicação: 02 de Julho de 2020, 00:00h
Dados de estudo do instituto apontam que as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram elevação superior à média nacional no indicador de desenvolvimento industrial em vinte anos
A segunda etapa do estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) “Desenvolvimento Regional no Brasil”, aponta que o crescimento das aglomerações industriais em microrregiões do país cresceu 32% no período entre 1995 e 2015. O levantamento analisou o indicador de Aglomerações Industriais Relevantes (AIRs), que contabiliza locais que tenham, em um ano, 10 mil ou mais empregos industriais.
O Ipea baseia o conceito de microrregião de acordo com a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – agrupamento de municípios com a finalidade de atualizar o conhecimento regional e definir uma base territorial para levantamento e divulgação de dados estatísticos.
Segundo o Ipea, em 1995, das 580 microrregiões do Brasil, 85 tinham mais de 10 mil empregos na indústria. Vinte anos depois, esse número quase dobrou – passou a ser de 160.
A pesquisa confirma a tendência de desconcentração territorial das aglomerações industriais e migração para microrregiões do país. De acordo com os dados, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram elevação superior à média nacional no indicador AIRs, apontando crescimento da atividade industrial em suas microrregiões.
“As aglomerações industriais que mais crescem são as de menor tamanho, são aquelas que tem entre 10 mil e 20 mil empregos. Responde por isso, por exemplo no Centro-Oeste, a força dos negócios da agropecuária, a ascensão das exportações de soja e do milho para o mercado internacional. O fato da expansão do agronegócio requer uma certa indústria processadora de alimentos, processadora de grãos”, destaca o pesquisador do Ipea e um dos responsáveis pelo estudo, Aristides Monteiro.
“Isso aconteceu também no Nordeste, embora nessa região a força das exportações seja menor e tem mais conexão com a expansão do mercado interno e da renda regional. Indústrias novas que se instalaram por lá em busca de novas infraestruturas e incentivos fiscais. O mesmo ocorreu na região Norte”, completa Monteiro.
As regiões Sudeste e Sul continuam como os grandes polos industriais brasileiros, com 73% das AIRs – total de 160 – no país até 2015. O percentual, no entanto, diminuiu ao longo dos 20 anos de análise. Em 1995, era de 78%.
Interiorização
A pesquisa do Ipea revela que algumas microrregiões do Brasil apresentaram crescimento de Aglomerações Industriais Relevantes até quatro vezes superior à média nacional. No município de Alto Teles Pires (MT), por exemplo, o número de empregos industriais subiu de 904 em 1995 para 14.113 em 2015. O salto representa taxa de crescimento de 14,73% – a média nacional é de 1,88%.
Em Parauapebas, no Pará, os números são semelhantes. Há 25 anos, os empregos industriais na microrregião eram 1.569. Em 2015, as pessoas empregadas na indústria eram 14.438 – crescimento de 11,74%. Além desses dois municípios, outras 12 cidades de sete estados apresentaram taxa de crescimento superior à média nacional.
“A construção de cidades no interior do Brasil, como Brasília, Goiânia e Belo Horizonte, foi puxando pouco a pouco o desenvolvimento para dentro do país. Quando as atividades industriais vão se interiorizando vemos que, no interior do Brasil, cidades médias e pequenas, começam a criar uma classe média, com salários de valor importante. Ou seja, mercado consumidor importante no interior do Brasil”, avalia Aristides Monteiro.
“Outro fato positivo é pensar que a interiorização da indústria significa uma expansão da arrecadação de impostos, nos locais onde ela está. Então ganha os municípios, ganha as prefeituras, ganham os governos estaduais. Só faz bem para o interior do Brasil um setor de crescimento que vai em direção ao interior”, completa o pesquisador.