Noar Natolo e Scovia Bulyaba são tecelãs e fazem parte da comunidade de Nagoje, localizada na floresta de Mabira, em Uganda. Para complementar sua renda, elas coletam folhas de palmeiras e tecem tapetes que posteriormente são tingidos com produtos naturais. A floresta também lhes fornece água, medicamentos e lenha para combustível.
Mabira é uma das poucas florestas tropicais remanescentes de Uganda, cobrindo uma área de cerca de 300 quilômetros quadrados. Uma das maiores reservas do país, abriga espécies ameaçadas, como o primata Lophocebus ugandae, uma espécie de macaco encontrada apenas por lá. No entanto, Mabira corre riscos por conta do aumento populacional, da alta demanda por carvão vegetal e da invasão agrícola.
“As florestas apoiam nosso bem-estar e também podem ser fontes de renda — nós dependemos das florestas e as florestas dependem de nós”, diz Musonda Mumba, chefe da Unidade de Ecossistemas Terrestres da ONU Meio Ambiente.
Uganda sofreu com o desmatamento ao longo da última década e apresenta uma das mais elevadas taxas de degradação florestal do mundo. Em 1990, a cobertura florestal foi estimada em 24% da área total de terra no país; em 2015, esse percentual era de 12,4% e, atualmente, é de 9%. Muitas das florestas remanescentes estão em áreas sob proteção da Autoridade Florestal Nacional e da Autoridade de Vida Selvagem de Uganda.
Os responsáveis pelo desmatamento incluem a extração de lenha, já que mais de 90% da energia doméstica é proveniente de lenha e carvão vegetal. A colheita de madeira para construção e a conversão de terras para a agricultura também são responsáveis.
Dentro e fora da floresta de Mabira, como em várias outras partes do país, o acesso à água é um problema. Para Natolo e Bulyaba, trabalhar com a Autoridade Florestal Nacional lhes ofereceu a oportunidade de participar na conservação da floresta e do acesso à água.
“Ajudamos com a conservação da floresta distribuindo informação pela comunidade e ressaltando sua importância, falando das florestas e sobre a importância de não desmatar, mas replantar e restaurar”, diz Natolo.
“As florestas nos dão medicamentos, ar de qualidade e chuva, tudo muito importante. Em troca, a Autoridade Florestal Nacional permite que possamos recolher lenha seca, água e ervas medicinais para uso doméstico em determinados dias. Antes, a Autoridade Florestal Nacional era uma espécie de inimigo, mas agora, nos últimos dez anos, temos tido uma ótima relação.”
A Autoridade Florestal Nacional também forneceu à comunidade colmeias e mudas para plantio. “Eles nos uniram como uma comunidade”, acrescenta Natolo.
Mapeamento — o primeiro passo na conservação
Para ajudar a proteger florestas como Mabira, o governo de Uganda lançou sua Estratégia Nacional REDD+ em novembro de 2017. A REDD+ refere-se à Redução de Emissões Decorrentes do Desmatamento e da Degradação de Florestas nos países em desenvolvimento, através de conservação, gestão sustentável e aumento dos estoques de carbono florestal.
A Estratégia REDD+ de Uganda inclui o desenvolvimento de planos e opções para o manejo florestal, redução de emissões de carbono e manutenção de serviços ecossistêmicos valiosos, como biodiversidade, abastecimento de água, proteção do solo e criação de meios de subsistência sustentáveis.
Com a REDD+, o país tem a oportunidade de gerir suas florestas de forma equilibrada para um crescimento econômico sustentável a longo prazo, para apoiar a subsistência das comunidades locais, rurais e dependentes da floresta e para assegurar a conservação do seu patrimônio natural.
Tornar a REDD+ uma realidade exigiu a construção de Sistemas Nacionais de Monitoramento Florestal que rastreiam com precisão e transparência as mudanças no uso da floresta e do solo, as ações de mitigação e facilita a medição de resultados.
O Programa UN-REDD está apoiando a Autoridade Florestal Nacional de Uganda no estabelecimento de um sistema de monitoramento florestal eficaz para acompanhar e relatar as mudanças florestais e conter o desmatamento. No âmbito do apoio inicial à preparação para REDD+, os funcionários nacionais foram treinados em coleta de dados, limpeza e análise.
Brenda Nagasha, uma supervisora de biomassa da Autoridade Florestal Nacional, mede a altura e o diâmetro das árvores para atualizar os mapas do inventário de biomassa. “Já faço isso há seis anos”, diz ela.
“É importante ter mapas e relatórios precisos sobre a situação das florestas para que as equipes de manejo possam tomar decisões sensatas. No meu trabalho, às vezes fico em campo por 30 dias seguidos na floresta, andando até 15 quilômetros por dia. Mas eu amo a natureza e estou feliz por poder ajudar a proteger o meio ambiente.”