‘Pensaram que iam calar a nossa força’, diz Milton Nascimento sobre atos antirracistas
por Luca Castilho | Folhapress
Afastado dos palcos por causa da pandemia do novo coronavírus, Milton Nascimento, fará sua primeira live musical neste domingo (28), em seu canal no YouTube, às 18h30. Em entrevista ao F5, ele fala sobre o show, diz que tem acompanhado os movimentos antirracistas e faz críticas ao governo Bolsonaro. “Esse governo tem escancarado com maior naturalidade um desprezo absoluto pela arte, pela ciência e, principalmente, pela história do Brasil”.
O cantor diz que a apresentação terá o número mínimo de pessoas e, entre músicos e equipe técnica, serão em torno de dez profissionais. “Para matar a saudade dos palcos é só o palco mesmo, não tem jeito. Tem a proximidade do público, aquela energia e o ambiente de show. Não existe nada igual. Mas a live possibilita levar um pouco de carinho aos fãs, ainda mais neste momento tão complicado que vivemos”, diz Nascimento, por email.
O maestro Wilson Lopes (cordas) e o pianista Christiano Caldas vão participar da live. O repertório traz sucessos, como “Travessia”, “Maria, Maria”, “Coração de Estudante” e “Quem Sabe Isso quer Dizer Amor”. A lista de canções foi elaborada com a ajuda dos fãs, que indicações as músicas na fanpage no Facebook do cantor.
“Decidimos fazer um show inteiro somente com pedidos de fãs. Vai ser uma apresentação com todos os grandes sucessos, mas, pode ser que a gente faça alguma surpresa também”, diz o cantor, carinhosamente conhecido por Bituca.
Carioca de nascença, mas mineiro de coração, Milton Nascimento passa a quarentena na casa do filho, Augusto, em Juiz de Fora (MG), local onde será realizada a live deste domingo. No isolamento, além da música, o cantor de 77 anos se entretêm de diversas formas. “Meu tempo está dividido entre o violão, TV, filmes e, de vez em quando, pego um livro e vou para varanda.”
Logo que se mudou para a casa do filho, o músico ganhou um celular de presente. Desde então, ele se tornou mais presente nas redes sociais. “Agora eu mesmo posso ver o que pessoal manda para mim nas minhas redes, e eu gosto muito de saber o que eles estão pensando. Nesta quarentena, faço muitas ligações de vídeo para os meus amigos e recebo deles, e assim vai.”
Apesar de recluso, Milton Nascimento tem acompanhado a repercussão dos protestos antirracistas no mundo e no Brasil. “Pensaram que iam calar a nossa força, mas, não, estavam todos enganados. O mais importante agora é a gente se organizar para que essa união só cresça cada vez mais. Hoje no Brasil o racismo vive um panorama absurdo. É uma tragédia atrás da outra”, diz o cantor, que completa a fala com críticas ao atual governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
“Esse governo tem escancarado com maior naturalidade um desprezo absoluto pela arte, pela ciência e, principalmente, pela história do Brasil. E, se não bastasse tudo que vivemos em meio a esse terror causado pela pandemia, sequer temos um ministro da saúde”, diz.
“Para piorar ainda mais temos o ministro do meio ambiente [Ricardo Salles], que quer aproveitar que a imprensa ‘só fala da Covid-19 para passar a boiada e mudar o regramento’ de leis que protegem nossas reservas indígenas e naturais. Vivemos o caos, infelizmente”, lamenta.