RIO — O PSL, partido com mais deputados na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), decidiu deixar a base do governador Wilson Witzel (PSC), conforme foi antecipado pela colunista do Extra Berenice Seara. A decisão foi comunicada oficialmente nesta segunda-feira, por meio de nota. A ruptura ocorreu após Bolsonaro condenar entrevistas de Witzel à revista Época e à GloboNews nas quais o governador fez críticas à gestão do presidente e manifestou intenção de se lançar candidato à Presidência. Bolsonaro também não gostou de ver Witzel dentro de um tanque de guerra do Exército no desfile de Sete de Setembro — acredita que o ex-juiz tenta angariar a simpatia das Forças Armadas, braço da União, com intuitos eleitorais.
A ordem da ruptura foi dada por Jair Bolsonaro e comunicada aos deputados estaduais pelo filho Flávio. Após ler a reportagem ontem no site do GLOBO, o presidente usou uma rede social para negar que a determinação tenha partido dele: “Não determinei nada. Fake news!”
A gota d’água foi uma declaração dada em entrevista à jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, na última quarta-feira, na qual o governador disse ter sido eleito “pela sua história”.
— Fui eleito no Rio de Janeiro não pelo apoio do Bolsonaro, porque ele nunca declarou voto em mim. Eu declarei que votaria nele, mas ele nunca declarou voto em mim. As pessoas me escolheram por aquilo que eu sou — afirmou Witzel.
Para o núcleo duro de Bolsonaro, a declaração foi uma amostra de ingratidão.
— Durante o segundo turno da eleição no Rio, Eduardo Paes (DEM) conseguiu na Justiça impedir que Witzel usasse na campanha uma foto ao lado do Flávio Bolsonaro (recém-eleito para o Senado), pelo fato de os dois não serem da mesma coligação. Witzel, então, pediu ao Flávio que autorizasse, e o Flávio assinou um documento liberando o uso da imagem. Isso aconteceu em um momento que o Paes crescia nas pesquisas — disse um aliado próximo de Bolsonaro.
Procurado, Flávio, que preside o PSL no estado, foi lacônico ao criticar Witzel.
— Gratidão não prescreve.
“Desejo tudo de bom”
Ao saber ontem pelo GLOBO que o PSL tinha anunciado oficialmente a ruptura por “discordar de posicionamentos políticos do governador”, Witzel respondeu:
— Pode perguntar qual posicionamento político desagradou? O presidente nada falou comigo. Vamos continuar trabalhando pelo melhor do Estado do Rio de Janeiro. Desejo tudo de bom ao Brasil e ao governo federal.
Também informado de que sua participação no desfile da Independência, dentro de um tanque do Exército, desagradou a Bolsonaro, Witzel ponderou:
— Participei dos desfiles para homenagear nosso país e nosso estado, onde fatos importantes da História nacional ocorreram. Há décadas que um governante não participava de uma solenidade cívica — Justificou.
Mulher do governador, a primeira-dama, Helena Witzel, enviou mensagens em grupos de WhatsApp dizendo que o marido havia sido mal-interpretado, já que a Presidência seria um objetivo para depois de 2022.
Todos os 12 deputados estaduais do PSL terão que entregar os cargos que mantêm no governo, inclusive a deputada federal Major Fabiana, nomeada no mês passado por Witzel para a Secretaria de Vitimização, pasta que dá assistência a policiais e vítimas de bala perdida. Vice-líder do governo Witzel na Alerj, Alexandre Knoploch (PSL) também deixará a função.
Deputados do partido aguardam orientação de Flávio Bolsonaro, presidente do PSL-RJ, para saber qual será o nível de oposição ao governo Witzel – o senador está em viagem à China. Uma preocupação é a mudança brusca de discurso, já que dez parlamentares do PSL são próximos de Witzel. Indagado sobre a possibilidade de reaproximação, Dr. Serginho, líder do PSL na Alerj, respondeu:
— Nenhum dos deputados presentes na reunião manifestou qualquer discordância quanto a sair da base do governo Witzel. Todos aceitaram a orientação que foi enviada — disse.
Vice-governador minimiza crise
O vice-governador, Cláudio Castro (PSC), minimizou uma possível crise. Ele diz não identificar matérias sobre as quais os deputados precisem votar em desacordo e que o governador precisa estar “preparado” para caso o presidente Jair Bolsonaro anuncie que não quer mais ser candidato à reeleição.
— Ele (Witzel) está se cacifando para o caso de o cavalo passar selado. Se o presidente anuncia que não é candidato à reeleição, ele tem de estar preparado para ser. Não acho que ele (o governador) tenha pretenção de ir de qualquer jeito. Não vejo elementos na gestão que me digam que ele descarta completamente a possibilidade de estar aqui — afirmou Castro.
A avaliação é de que não estar na base aliada não necessariamente significa fazer oposição ao governo e que os deputados são muito “alinhados” ao governo do Rio.
— Não consigo enxergar hoje nenhuma matéria que votariam contrário. A relação do governo com deputados individualmente é muito tranquila.
Em reservado, deputados reclamam do tratamento dispensado por alguns secretários do governo. Castro rebate as críticas.
— Se há alguma reclamação, pode ser de maneira pontual, não de governo. Toda vez que reclamam de algum secretário, o governador reitera sobre a necessidade de atender os deputados.
O deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), aliado de Witzel conhecido por ter quebrado uma placa com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco, diagnostica a ruptura do PSL com o governador como um erro.
— Minha opinião é que é um racha desnecessário. Não tem maturidade política quando você têm dois governos que não são antagônicos, pelo contrário, têm um objetivo único, só que ficam margeando uma vaidade. Isso atrapalha. Não se pode deixar por uma vaidade, porque um diz que o outro foi eleito na sombra dele e o outro quer ser presidenciável, atrapalhar o Estado do Rio de Janeiro.
O vice-governador diz não temer uma eventual retaliação do presidente Jair Bolsonaro por causa dos movimentos políticos de Witzel.
— As verbas são obrigatórias. As emendas de bancada também são impositivas. E o senador Flávio (Bolsonaro) acabou de aprovar uma emenda que destina R$ 2 bilhões ao Rio. Flávio é muito republicano. Não consigo imaginá-lo retaliando o povo do Rio — diz Castro.
Apesar de a ordem ter partido de Jair Bolsonaro, a decisão é atribuída ao filho Flávio. Em nota, o PSL informou ter sido orientado pelo senador a desembarcar “por discordar de posicionamentos políticos do governador”. O texto diz ainda que os 12 deputados do partido “reiteram o compromisso com o Estado do Rio de Janeiro”. Assina o documento o deputado estadual Dr. Serginho, líder da bancada do PSL na Alerj.
Na semana passada, ao programa Em Foco com Andréia Sadi, da GloboNews, Witzel admitiu que pretende concorrer à presidência da República.
— Eu sou governador do estado querendo ser presidente da República, disse Witzel, que foi eleito com o apoio de Flávio Bolsonaro.
Leia abaixo a íntegra da nota divulgada por Dr. Serginho.
“A bancada do PSL na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), por orientação do senador Flávio Bolsonaro, presidente estadual do PSL-RJ, não está na base do governo na Alerj a partir desta segunda-feira (16/09), por discordar de posicionamentos políticos do governador. Os 12 deputados do partido reiteram o compromisso com o Estado do Rio de Janeiro.”