Por Francis Juliano
Procura-se pelo forró. Quem o encontrar, avise da ausência, lembre da falta e o apele pra voltar. Pode dar certo [Nesse rojão, só vai restar licor e bandeirolas. Camisa quadriculada não vale. É moda de de ano inteiro.]
Olha, confesso que tenho problemas com saudosismos. Fico logo incomodado com aquela cantilena: “Bom era no meu tempo”, “ah, como não havia essas coisas na nossa época”, “vixe, como as coisas mudaram, argh”. Mal sabendo o sujeito que “naquela época” havia tudo de ruim. A memória dele é que resolveu esquecer.
Pois bem. São João – ou as festas de junho – não começou com forró. Sabemos. No entanto, desde que se estabeleceu no Nordeste, um não vivia sem o outro. Era o que ocorria, por exemplo, nas festas de escolas e nos eventos públicos, os bancados por dinheiro do contribuinte. Há um tempinho q a coisa já não é mais a mesma. Basta acompanhar a play list desses mesmos locais citados. É quase a mesma coisa de eventos particulares. Em época de crise financeira, eu não sei como as pessoas ainda gastam dinheiro pra entrar em festas privadas quando podem ver as mesmas atrações bancadas por prefeituras.
Alguém vai perguntar. Mas qual a novidade disso? A novidade agora é que o forró foi constrangido. Parece q ele não pode aparecer se não for envergonhado.
Ontem no Arraiá do Camisão, em Ipirá [fiquei até umas 3h, será q perdi alguma coisa?] só vi forró quando Paraíba do Acordeon tocava e cantava. Apenas nestas ações. Neste trecho do show notei q algumas pessoas balançavam o corpo, algumas dançavam, mas uma maioria estava em outra sintonia. Aproveitava pra conversar. Comprava alguma coisa. Circulava. Parecia intervalo.
A “festa” só voltava ao normal depois das entradas de um forró-sertanejo, mais sertanejo q forró diga-se de passagem, e de pagodes e funks. Esses últimos acompanhados com a letra na ponta língua e com as coreografias ensaiadas. Eu pensei. São João virou apenas data? Porque pedir uma dose de tradição não é cobrar imobilidade. Como já disse o célebre Biliu de Campina, forró também teve pré-história. Basta pesquisar que antes de Gonzaga e Jackson houve outros construtores. Ou seja, o gênero se tornou o que é depois de enes variações e será outra coisa amanhã.
Acho que o sentido aqui é semelhante aquele “a César ao que é de César” pro São João. Numa das polêmicas sobre uma tal “descaracterização” do samba, Paulinho da Viola fez a música Argumento. “Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim. Olha que a rapaziada está sentindo a falta, de um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim”.
No nosso caso, acha que a falta é do forró – o que não é pouca coisa também. Sanfona, zabumba e triângulo são facilmente reconhecíveis nos palcos. O forró, não. Por isso, falta só convocá-lo. Porque daqui a pouco ele vai ter que pedir licença para se apresentar no São João. E no pior dos casos será vaiado por isso.
Excelente texto, Francis! Penso da mesma forma: o forró se perdeu ou o jogaram fora?