Pesquisa será capaz de mostrar um retrato atual da disseminação do vírus, com resultados que podem nortear políticas públicas
Apesar de o novo coronavírus ser o mesmo para todas as cidades, a forma como ele se dissemina muda de região para região, e até de um bairro vizinho para outro a transmissão da doença pode apresentar configurações totalmente diversas. Isso se deve a diferenças na capacidade que cada pessoa tem de fazer o isolamento e restringir movimentações, nos hábitos de cada um e, principalmente, na organização característica encontrada em cada localidade.
Com base nessas variações, uma pesquisa realizada por equipes da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) rastreará a imunidade ao vírus, mapeando bairros da cidade de São Paulo. O projeto é de extrema importância para que as medidas de flexibilização sejam analisadas e possam entrar em vigor. “Estávamos sentindo falta de dados da disseminação do vírus e queríamos saber como ele está inserido na população em geral”, comenta em entrevista ao Jornal da USP no Ar Beatriz Tess, pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP que participa do projeto.
O objetivo do trabalho é estimar o porcentual de indivíduos que foram infectados pela covid-19 e que tenham anticorpos circulando. Para isso, serão avaliadas aproximadamente 500 pessoas residentes em seis distritos administrativos do município de São Paulo, considerado o epicentro da epidemia no Brasil. Falta apenas a autorização final do Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para que o projeto comece a ser executado.
Os bairros escolhidos foram divididos nos três distritos com mais casos (Morumbi, Jardim Paulista e Bela Vista), considerando a proporção de 100 mil habitantes, e nos três distritos com mais óbitos por 100 mil habitantes (Água Rasa, Pari e Belém). Os dados estão nas estatísticas divulgadas pela Secretaria Municipal da Saúde em 17 de abril de 2020.
De acordo com Beatriz Tess, os resultados poderão ser aplicados em políticas públicas, já que o trabalho será capaz de mostrar o retrato atual da disseminação do vírus. Contudo, ela diz que a pesquisa deve ser repetida em outras ocasiões, para que se alcance um nível maior de eficácia. Em um primeiro momento, a intenção é alcançar uma linha de base de informação sobre a porcentagem da população que produziu anticorpos contra o vírus e entender em que estágio está a imunidade coletiva das pessoas.
Saiba mais ouvindo a entrevista na íntegra.