Sexta, 27 de março de 2020
O pronunciamento do presidente brasileiro Jair Bolsonaro na terça-feira (24) aumentou a crise com os governadores. A Sputnik Brasil ouviu um cientista político para comentar a crescente tensão entre Brasília e os estados e como isso pode criar problemas para a população.
Durante o pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, Bolsonaro minimizou a pandemia do novo coronavírus. O presidente voltou à referir-se à doença COVID-19 como uma “gripezinha” e também como “resfriadinho”. No Brasil, hoje, há 2.915 casos da doença, com 77 mortes.
Bolsonaro também discursou contra o fechamento de escolas, do comércio e contra a quarentena, medidas sendo aplicadas mundo afora para combater a disseminação do vírus.
No mesmo dia, diversos governadores usaram as redes sociais para criticar o posicionamento, entre eles Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, e João Dória, de São Paulo. O governador Ronaldo Caiado, de Goiás, um apoiador de Bolsonaro desde a campanha presidencial, também foi contra o discurso e sinalizou rompimento político com o presidente.
Como consequência dessa situação, na quarta-feira (25), os governadores se reuniram para pensar uma estratégia sem Bolsonaro.
Para Guilherme Carvalhido, cientista político e professor da Universidade Veiga de Almeida, essa tensão cria um clima de desorganização no país.
“Quando você tem o presidente em um pensamento, em uma estrutura de pensamento, e, por outro, os governadores, ou uma grande maioria deles em uma linha de pensamento, como parece, você tem uma dissonância política criando na organização do poder uma forte desorganização”, explica o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
O cientista político acredita que um alinhamento é necessário para manter a estrutura organizativa e avalia que esse acordo deverá acontecer em breve.
“Acho que nos próximos dias, até mesmo hoje, a gente tenha ainda uma negociação para que haja, melhor dizendo, um alinhamento, de posicionamentos”, diz.
‘Quem a gente deve seguir?’
Carvalhido aponta que essa situação é “inusitada do ponto de vista político”, pois a pandemia “é um fenômeno novo para os estudos das ciências políticas”. Para ele, no entanto, a divergência entre o Executivo federal e os governadores afeta o próprio entendimento da população sobre o poder.