Mergulhado na crise, mandatário chileno está habituado a ganhar na política e nos negócios
ROCÍO MONTES
Poucas horas depois do início da crise no Chile, quando o transporte em Santiago estava um caos e as pessoas tentavam chegar em casa como podiam, o presidente saiu do palácio de La Moneda e foi a um restaurante em um bairro abastado da capital para comer uma pizza: era a comemoração de aniversário de um de seus netos. Sebastián Piñera Echenique (Santiago, 1949) não é exatamente um político, mas um pragmático empresário que combinou com sucesso a vida pública e os negócios. Seus constantes deslizes, como este, às vezes causam certa graça, e outras, diretamente indignação. Nas horas seguintes ao episódio da pizza —fotografado por um transeunte e viralizado em poucos minutos—, a capital se tornou um protesto transbordante: as manifestações estudantis contra o aumento do preço da passagem de metrô foram o pavio que fez explodir um sentimento de frustração de uma população que se sente à margem da senda de desenvolvimento do país. Em um fenômeno marcado pela fúria contra todos os grupos dirigentes e os privilegiados, o presidente chileno —cuja fortuna é avaliada em 2,8 bilhões de dólares (cerca de 11,8 bilhões de reais)— parece outro alvo do mal-estar.
dos cidadãos votam. Mas não ajuda a revelação de meses atrás de que Piñera não pagou os impostos regulamentares de uma de suas casas de veraneio, nem que os ministros, diante do aumento dos preços do transporte, incentivaram os cidadãos a se levantarem mais cedo para aproveitar a tarifa mais baixa.
Não se vê uma saída rápida da crise. Para alguns, o Governo está arruinado, embora os democratas chilenos de todos os setores —aqueles que pensam que tão importante quanto recuperar a ordem pública é dar uma resposta às causas dos protestos— estejam dispostos a ajudar e não jogar mais lenha no fogo. O presidente, com acertos e erros, foi democraticamente eleito e as lembranças da ditadura ainda estão demasiado presentes.