Seleção feminina entra em ano de Mundial sem vencer principais oponentes desde 2016

Marta tenta superar marcação de venezuelana durante a Copa América. LUCAS FIGUEIREDO CBF

Equipe de Vadão foi campeã sul-americana em 2018, mas não convenceu nos amistosos contra times mais fortes

DIOGO MAGRI

O Stade des Alpes, em Grenoble (França), recebe no dia 9 de junho de 2019 a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo feminina, contra a Jamaica. A oitava edição do Mundial reunirá 24 seleções de 7 de junho a 7 de julho no país dos atuais campeões da Copa masculina. E a seleção brasileira não aparece entre as favoritas. Ocupando apenas a oitava posição no Ranking da FIFA, o Brasil não foi cabeça-de-chave no sorteio e caiu no grupo de Austrália (sexta no Ranking), Itália (16ª) e jamaicanas (53ª). A posição da seleção brasileira no ranking — não frequentamos o top 4 desde 2013 — acarretou em uma chave teoricamente mais difícil e é fruto de um ano preparatório em que o treinador Vadão passou sem vencer nenhuma de suas principais adversárias.

Em 2018, foram 13 jogos oficiais. Apenas sete disputados por um torneio não amistoso: a Copa América feminina, disputada durante o mês de abril no Chile. Contra adversários abaixo do nível brasileiro, não houve dificuldades: foram sete vitórias, 31 gols marcados e apenas dois sofridos. A campanha incluiu triunfos como o 8 a 0 sobre o Equador, um 7 a 0 sobre a Bolívia, 3 a 0 na Argentina e 3 a 1 contra o Chile, que acabou com o segundo lugar geral. O heptacampeonato (de um total de oito edições) garantiu a vaga nas Olimpíadas de Tóquio 2020 e na Copa do Mundo da França. “Fomos bem na Copa América, mas não nos amistosos que vieram depois”, reconhece Aline Pellegrino, ex-jogadora e capitã da seleção brasileira feminina de futebol.

Entre amistosos considerados pela FIFA, o Brasil teve cinco derrotas em seis jogos. Em julho e agosto, pelo Torneio das Nações, competição amistosa organizada pela federação norte-americana, a seleção jogou contra Austrália, futura adversária na Copa, Japão, que é o sétimo colocado no ranking, e Estados Unidos, que lideram a classificação da FIFA. Perdeu para australianas (3 a 1) e para americanas (4 a 1), mas venceu o Japão por 2 a 1. Acabou em terceiro lugar entre as quatro concorrentes.

Nos meses seguintes, três jogos. Derrota para o Canadá, que ocupa o quinto lugar no ranking, por 1 a 0 em setembro; derrota para a Inglaterra, terceira colocada, também por 1 a 0 em outubro; e derrota para as francesas, que ocupam a quarta posição, por 3 a 1 em novembro. “É um momento da modalidade em que tem muita seleção boa na nossa frente”, admite Aline, comparando com anos em que as brasileiras rivalizavam com EUA e Alemanha no topo do esporte. O saldo do ano, finalizado no jogo contra a França, é de que o Brasil sobrou na competição continental — na qual é tradicionalmente superior —, mas não foi páreo para equipes acima de sua posição no ranking da FIFA e favoritas ao título da Copa do Mundo do ano que vem.

Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Canadá, Austrália e o país-sede França são os cabeças-de-chave no sorteio do Mundial. Com derrotas para cinco das seis citadas em 2018, Aline coloca as brasileiras fora do grupo das favoritas. “Não podemos cobrar vitórias sobre quem, hoje, está mais perto de ser campeão. Temos a melhor jogadora do mundo, mas não estamos na condição de favorito. Criar expectativa não ajuda”. A ex-jogadora coloca França, EUA, Austrália e Holanda (décima no ranking) como maiores candidatas.

“É legal que o Brasil não carregue a responsabilidade das favoritas”, alivia a ex-jogadora, que relembra a conquista do Japão em cima dos Estados Unidos na Copa de 2011, resultado considerado surpreendente, e da própria trajetória da seleção brasileira em 2007, quando ela jogava, para justificar seu ponto. “Não éramos favoritas em 2007, mas nos classificamos em primeiro no grupo, pegamos um confronto light [3 a 2 na Austrália] nas quartas, fizemos um bom jogo nas semis [4 a 0 nos EUA] e chegamos na final”. O Brasil foi vice-campeão naquele ano, derrotado pela Alemanha por 2 a 0 na final. “Hoje é muito mais difícil. O número de equipes e o nível aumentaram cada vez mais”. O vice foi o melhor resultado da história brasileira em Mundiais, que também tem um terceiro lugar em 1999.

Vadão deve seguir à frente da seleção na Copa do Mundo. Com passagens sem destaque no futebol masculino por Guarani, Ponte Preta, Criciúma e Sport nos últimos cinco anos, o técnico ficou em quarto lugar nas Olimpíadas de 2016 com o time feminino brasileiro e voltou ao comando em 2017, substituindo Emily Lima. “Ele foi escolhido por uma diretoria que sabe dos seus objetivos. A responsabilidade não é só dele”, diz Aline Pellegrino. Nos 13 jogos disputados na atual temporada, a artilheira de Vadão foi Bia Zaneratto, com sete gols, seguida por Mônica Alves, Cristiane, Debinha (quatro gols) e Andressinha (três gols). Contra as equipes do top 10 mundial, apenas Bia, Debinha, Marta e Darlene marcaram, uma vez cada.

Voltando a 2017, o Brasil sofreu três derrotas para a seleção australiana: por 6 a 1, 2 a 1 e 3 a 2. A última vitória contra o time da Oceania também foi a última sobre uma seleção do atual top 6 mundial: 3 a 1, antes das Olimpíadas de 2016. Depois do vice em 2007, a seleção parou nas quartas no Mundial de 2011 e nas oitavas de 2015. Considerado o retrospecto recente, o cenário não melhorou para as brasileiras; Em resumo, Vadão e suas escolhidas estrearão em Grenoble sem as credenciais de candidatas ao primeiro título mundial do Brasil na categoria.

Fonte: www.brasil.elpais.com

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