Sem plano contra desigualdade, Bolsonaro nega fome no Brasil e depois recua

Presidente disse à imprensa internacional que é "mentira" que brasileiras passam fome, pois não se vê "corpos esqueléticos" mesmo entre moradores de rua. Para ele, é suficiente incentivar o empreendedorismo para combater a pobreza

Valter Campanato/Agência Brasil

Presidente disse à imprensa internacional que é “mentira” que brasileiras passam fome, pois não se vê “corpos esqueléticos” mesmo entre moradores de rua. Para ele, é suficiente incentivar o empreendedorismo para combater a pobreza

Por Jornal GGN

Jair Bolsonaro mostrou à imprensa nacional e internacional, nesta sexta (19), que não tem planos para reduzir as desigualdades sociais e combater a miséria no Brasil, e que desconhece os números de brasileiros em situação de pobreza e extrema pobreza. “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”, disparou.

Mais tarde, depois da repercussão negativa, ele tentou se corrigir e disse que “alguns passam fome”, mas o que acontece é que a maioria dos miseráveis “come mal”. Ele ainda aproveitou para criticar o programa Bolsa Família. “O que tira o homem e a mulher da miséria é o conhecimento. Não são bolsas e programas assistencialistas. Nós temos que lutar nesse sentido, nessa linha para dar dignidade ao homem e à mulher brasileira”, afirmou, à tarde.

Pela manhã, quando questionado sobre seus planos para reduzir a desigualdade, Bolsonaro negou que brasileiros estejam passando fome ainda hoje, e o argumento é que não se vê, mesmo entre moradores de rua, corpos “esqueléticos” como ele disse ter visto em outros países.

“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, assegurou. “Você não vê gente mesmo pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo”, acrescentou o presidente, sem dar detalhes.

A resposta de Bolsonaro foi a pergunta feita por correspondente do El País, que trouxe à mesa uma crítica do deputado Rodrigo Maia (DEM) sobre a falta de planejamento do atual governo para reduzir a desigualdade social.

Além de ter negado a fome e a miséria no Brasil, Bolsonaro ainda apontou que o problema da desigualdade será resolvido apenas fomentando o empreendedorismo.

Para ele, o único papel do governo e do Legislativo, nesta questão, “é facilitar a vida do empreendedor, de quem quer produzir, e não fazer esse discurso voltado para a massa da população, porque o voto tem o mesmo peso”, disse, criticando a política de programas de transferência direta de renda pensados pelos governos petistas.

“É só as autoridades políticas não atrapalharem o nosso povo que essas franjas de miséria por si só acabam no Brasil, porque o nosso solo é muito rico para tudo o que se possa imaginar”, comentou.

O Banco Mundial aponta que 7,4 milhões de brasileiros foram empurrados para a pobreza entre 2014 e 2017. Com isso, houve um salto de 20,5% — de 36,5 milhões para quase 44 milhões — no número de pessoas vivendo com menos de US$ 5,5, ou seja, R$ 21,20, por dia. A fatia dos miseráveis (que vivem com R$ 220 por mês) entre o total de pobres do país saltou de 15,4% para 23% no período analisado. Os dados foram divulgados pela Folha de S. Paulo.

Além disso, a Fundação Abrinq apontou 9 milhões de brasileiros entre 0 e 14 anos vivendo em situação de extrema pobreza. Já o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (Sisvan) afirmou que, em 2017, 207 mil crianças menores de 5 anos foram identificadas com desnutrição grave.

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