SERÁ QUE APENAS O ESTOICISMO GREGO NOS SALVARÁ DAS PAIXÕES POLÍTICAS E NADA MAIS?
Por Rodrigo Santana – Sábado, 20 de junho de 2020
É esse o vírus que eu sugiro que você contraia/ Na procura pela cura da loucura/ Quem tiver cabeça dura vai morrer na praia”
Djavan / Gabriel Contino
Se você for ao contorno que da acesso ao município de Ipirá, verá um busto do ex-prefeito Roberto Cintra que tinha como música da sua campanha a composição de Antônio Barros e Ceceu: “Bate Coração” interpretada pela cantora Elba Ramalho. Sendo que o símbolo que continha o número 25 do candidato Roberto Cintra era um coração. Percebe-se que de frente ao busto do Ex-prefeito está o nome Ipirá com um coração ao lado. Ou seja, jamais seria colocado naquele contorno uma replica da estátua de “O Pensador” de Auguste Rodin por que a intenção do prefeito Marcelo Brandão é resgatar no inconsciente coletivo o imaginário da Ipirá bem governada onde ele se insere como a continuação do legado de prefeitos do seu grupo que amaram o município de Ipirá. Ou seja, os elementos principais do governo Marcelo Brandão é o estímulo à paixão política nos eleitores + o marketing da indireta a oposição.
Nota-se que os amigos do prefeito Marcelo Brandão criaram um outdoor fazendo uma citação do Hino Nacional Brasileiro: “Verás que um filho teu não foge a luta”. Observa-se que ao mesmo tempo em que pode ser interpretada como uma homenagem ao prefeito Marcelo Brandão também pode ser interpretada como uma indireta a candidata Ana Verena Colonezzi por ter renunciado ao cargo de prefeita do município de Ipirá. O outro outdoor referente à pavimentação asfáltica do centro da cidade diz: “Esperei tanto por esse momento”. Vê-se que o sujeito oculto (eu) é todo o eleitor que lê o outdoor e se identifica como aquele que esperava a mudança chegar. Sendo que o marketing da indireta está em “esperei tanto” por conta do tempo que a oposição permaneceu no poder e não trouxe o asfalto para o centro da cidade. Ao fazermos uma análise desses discursos é possível perceber que o foco da propaganda é deslocar a atenção do leitor do aqui e agora para o passado “Esperei” ou para o futuro “Verás” por que se o eleitor for estimulado a pensar no governo Marcelo Brandão só pelo o que ele faz ou deixa de fazer no seu mandato, o eleitor irá raciocinar sobre o que ainda não foi feito pelo prefeito.
O estoicismo é a nossa única saída por que é a filosofia que propõe o raciocínio sem a afetação doentia da paixão quando destaca que :
“ Embora o ambiente aja sobre nós de um modo que não está em nosso poder, nossas reações “estão em nosso poder”, visto que dependem de nosso estado interior”
Ou seja, se o eleitor detecta os mecanismos de manipulação externo sobre o seu comportamento, ele não responderá automaticamente a sugestão. Isso é tão possível que eu fiz uma autoanálise e funcionou. Por exemplo, eu não gosto de futebol, logo eu não desenvolvi paixão por nenhum time. Ou seja, mesmo que eu diga ser torcedor do Flamengo por influência da minha família que a maioria são flamenguistas, eu não sofro se o Flamengo perder e nem fico alegre se o Flamengo ganhar. Daí como eu já tinha isso com o futebol, eu tentei acionar a mesma lucidez para a política e religião e consegui.
O problema é que enquanto formos corruptíveis por interesses pessoais não conseguiremos exercer a nossa cidadania em prol do bem comum. Enquanto assim for nosso questionamento sobre corrupção será hipócrita por que ele só existirá enquanto você não estiver também sendo um dos beneficiados com desvio de verba pública. É lamentável afirmar isso, mas a nossa briga política é para entrar para o meio dos espertos é para ser mais um ladrão. Nessa conduta tão suja que a maioria manifesta quem somos nós para falar mal do advogado, policial, empresário, vereador, prefeito, funcionário público, pastor, padre, Papa que esteja envolvido em algum esquema de corrupção? Por que o que temos demostrado, diariamente, é que no lugar deles faríamos o mesmo ou até pior. Eu perdi a esperança de ver ainda nessa encarnação uma reforma na educação pública brasileira capaz de reduzir, substancialmente, a desigualdade social, mas continuo a acreditar em mim mesmo como agente da mudança que eu sonho em ver no meu país.
Rodrigo Santana Costa é professor e escritor. Publicou a obra: “Clarecer” em verso e prosa.
