Tomar corno é necessário para se compreender a vida como ela é

A nossa infância é guiada por fábulas que nos levam a criar uma ideia utópica sobre os relacionamentos.

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TOMAR CORNO É NECESSÁRIO PARA SE COMPREENDER A VIDA COMO ELA É.

A nossa infância é guiada por fábulas que nos levam a criar uma ideia utópica sobre os relacionamentos. Daí ao chegarmos à pré-adolescência é comum que façamos uma projeção na primeira relação desse imaginário de que iremos amar alguém e sermos felizes para sempre, nós nos sentimos um ser absoluto naquele início de uma relação onde tudo são flores. E isso nos leva a escrever poesias, a presentear buquê de flores, a imaginar que aquele amor é inabalável aos defeitos, a ação do tempo que esmaecem tantos matrimônios. A possibilidade de que essa pessoa possa ter olhos para outro alguém não passa nem de longe pelo nosso psiquismo. Então, às vezes, até machucamos a pessoa amada sem termos tanta preocupação de um possível término do relacionamento por que acreditamos que um fim é impossível já que se trata de um amor verdadeiro, pensamos com certeza de que o outro está em nossas mãos e a gente se acomoda e não se importa se há alguma reclamação da pessoa sobre um defeito nosso que se revelou e que começou a atrapalhar a relação.

Quando nós tomamos o primeiro corno na vida todas essas convicções  que tínhamos sobre o outro passam a entrar em conflito. A dor do corno tem o poder  de despertar o ser humano para a complexidade da vida, a noção de controle da situação é desmoronada, uma série de questionamentos sobre o que pode ter contribuído para a atitude do outro é feita nas insônias que virão por madrugadas inteiras, a sensação de que foi trocado (a) por outro alguém nos leva a compreender que não somos os únicos capazes de despertar o interesse daquela pessoa, a ilusão de que aquela boca só conheceria o nosso beijo cai por terra. E para o consolo das feridas que não ficaram no passado, nós temos inúmeras músicas inspiradas em traição que lotam os shows pelo o mundo a fora. A nossa relação com esse tipo de música revela o quanto é difícil para nós ocidentais compreendermos a sabedoria oriental do estar no “aqui e agora”. Nós preferimos voltar ao mal estar da traição e ficar sofrendo por algo que deveria permanecer no passado, todavia eu tenho consciência que a superação de uma dor não pode ser nivelada. Por outro lado também é possível notar uma apologia ao sofrimento com essa ideia de “Sofrência”.

A traição sendo compreendida como aprendizado é possível nos livrar da ideia do não imaginar algo do outro. Perceba que muitas pessoas usam a frase: “Eu nunca imaginava que ela ou ele seria capaz de fazer isso comigo”. Sendo que na vida é necessário que a gente crie a consciência de que tudo pode ser esperado do outro para podermos viver sem surpresas desagradáveis. É preciso que a gente faça a nossa parte na relação para que se houver peso na consciência seja só do outro. Segundo Chico Xavier “Fico triste quando alguém me ofende, mas, eu ficaria mais triste se fosse eu o ofensor… Magoar alguém é terrível!”


 Rodrigo Santana Costa é professor e escritor. Publicou a obra: “Clarecer” em verso e prosa.

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