A trégua de natal na Primeira Guerra Mundial foi um episódio famoso acontecido no frontOcidental em 1914. Esta história se tornou famosa no mundo todo e se tornou um dos símbolos do conflito por sua excentricidade.
Durante a Primeira Guerra Mundial, conflito internacional que opôs dois grandes blocos de países entre si – A Tríplice Aliança e a Tríplice Entente – as forças militares se utilizaram em grande medidas de trincheiras, grande valas cavadas no chão pelas tropas, onde poderiam ser proteger de ataques inimigos e de onde tinham condições de efetuar ataques às linhas inimigas.
O uso dessa técnica foi bastante comum na segunda fase da guerra, chamada de “guerra de posição”, porém, já em 1914, as tropas do Front Ocidental utilizavam desse artifício para garantir as posições conquistadas e atacar o inimigo com segurança.
O episódio da trégua de natal foi um momento do ano de 1914 em que, em pleno inverno (com todas as suas trágicas consequências para aquele que estavam nas trincheiras), ambas as tropas receberam a notícia de que a guerra, que se esperava que fosse breve, iria se estender para além do esperado, podendo inclusive demorar anos (o que realmente se verificou, pois o conflito durou 4 longos anos).
A notícia chegou ao Front exatamente na véspera de Natal, acabando com a esperança de que houvesse paz antes dele. Porém, movidas pelo sentimento evocado pela data, os alemães começaram a montar árvores de natal improvisadas, acendendo velas e tocando música natalina, num claro sinal de que comemorariam a data em todo o seu significado mesmo no meio do conflito. Essa atitude, que inclusive dava aos aliados vantagem do ponto de vista militar, pois denunciava localização das tropas alemãs foi entendida como sincera pelos aliados e compartilhada.
Os alemães fizeram então sinais de trégua às posições aliadas, saindo de suas trincheiras e ocupando a denominada “terra de ninguém” , o espaço entre as trincheiras inimigas que, em condições normais, seria o local mais perigoso para qualquer soldado. Ali ambos os exércitos se reuniram, trocaram presentes, entoaram juntos hinos natalinos e confraternizaram como se guerra alguma houvesse. Realizaram inclusive uma partida de futebol improvisada, na qual os alemães saíram vencedores pelo placar de 3×2.
Historiadores analisam que esse momento serviu a ambos os lados do ponto de vista militar, pois tiveram tempo de retirar e cuidar de feridos, repor armamentos, munições e víveres das tropas e realizar reconhecimento de território inimigo.
Acabada a data oficial de natal, no dia 26 de dezembro, a despeito de toda a confraternização e amizade celebradas naquela noite, as tropas reassumiram suas posições e recomeçaram a guerra, utilizando-se das vantagens obtidas no momento e demonstrando que o que havia acontecido era realmente uma breve trégua.
A história se espalhou pela Europa, encantando alguns, mas, ao mesmo tempo, provocando o desgosto dos comandantes militares que, no ano seguinte, tomaram medidas para que esse episódio não se repetisse, inclusive intensificando bombardeios e ataques na data de natal.
Esse episódio mostra a complexidade do sentimento e do comportamento humano, como uma data pode ser importante para as sociedades e como o ser humano pode ser movido tanto peã compaixão e respeito mútuo, quanto pode, em pouco tempo, ceder aos instintos e razões que fazem da guerra uma constante na história humana.
Bibliografia:
Eric J. Hobsbawm. A Era dos Extremos. O breve século XX 1914-1991. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.