Por BBC Brasil – Quinta, 28 de maio de 2020
O presidente americano, Donald Trump, ameaçou pela primeira vez fechar plataformas de redes sociais depois que o Twitter emitiu uma advertência sobre a veracidade de informações publicadas pelo mandatário.
A batalha entre o presidente e as empresas de redes sociais não é de hoje. Mas a escalada retórica de Trump indica que o cenário se acirrará ainda mais com a aproximação das eleições presidenciais dos EUA, em novembro.
Na noite de terça-feira (26/5), tuítes de Trump que apontam supostas fraudes em votações por correio nos Estados Unidos passaram a ser acompanhados de um link para o que o Twitter chamou de “fatos sobre votações por correio”.
Esse link, que não aparecia para todos os usuários da plataforma, leva a uma página que contesta as alegações do presidente a partir de reportagens de dois veículos de mídia que Trump considera inimigos: CNN e Washington Post.
Não demorou muito para que o mandatário reagisse em seu perfil na própria rede social: “O Twitter está agredindo completamente a liberdade de expressão, e eu, como presidente, não vou deixar que isso aconteça”.
Na manhã seguinte, Trump acirrou seu discurso em uma série de tuítes:
“Os republicanos sentem que as plataformas de redes sociais silenciam totalmente vozes conservadoras.”
“Nós vamos regulá-las fortemente, ou fechá-las, antes de permitir que isso aconteça.”
“Vimos o que eles tentaram fazer, mas fracassaram, em 2016 (ano de sua eleição).”
“Não podemos permitir que uma versão mais sofisticada daquilo aconteça de novo, assim como não podemos permitir que votações por correio ocorram em larga escala no país.”
“Isso seria um ‘libera geral’ para trapaças, fraudes e roubo de votos.”
Não foi a primeira vez em que o Twitter atuou contra postagens presidenciais. No fim de março, a plataforma excluiu dois vídeos do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, por violarem as regras de uso ao potencialmente “colocar as pessoas em maior risco de transmitir covid-19”.
Medida semelhante só havia sido tomada antes contra outro líder latino-americano, o mandatário venezuelano, Nicolás Maduro, que indicava uma receita caseira para combater o vírus.
Teorias conspiratórias
Mas será que Trump tiraria essas ameaças do papel?
Dificilmente o Congresso americano aprovaria mudanças na legislação que regulem duramente ou fechem plataformas de redes sociais.
O presidente fala em liberdade de expressão, mas como companhia privada, o Twitter é livre para estabelecer suas políticas sobre que é adequado em sua plataforma.
De todo modo, o CEO do Twitter, Jack Dorsey, avalia que este é sem dúvida o início de uma batalha que vai continuar pelo menos até as eleições presidenciais americanas em novembro.
Nos últimos dias, o empresário esteve sob forte pressão para agir contra os tuítes de Trump. Ele agora agiu, mas não de um jeito muito esperado.
Há um furor sobre a forma com que o presidente americano tem usado o Twitter para endossar teorias conspiratórias sem provas sobre um de seus críticos, o apresentador de TV e ex-congressista republicano Joe Scarborough.
Trump já afirmou diversas vezes que a morte de uma auxiliar de seu adversário, Lori Klausutis, em um acidente no ano de 2001, é um caso inexplicado que deveria ser reaberto pela polícia.
Isso levou o viúvo de Klausutis a escrever para o executivo Jack Dorsey pedindo que fossem removidos os tuítes do presidente porque eles causavam dor a sua família.
Até agora, Dorsey se recusou a retirá-los do ar sob o argumento de que o perfil do presidente teria status protegido por se tratar de um registro público.
Tampouco houve qualquer iniciativa para corrigir eventuais imprecisões em seus tuítes.
Mas a estratégia de adicionar links com checagem de fatos às alegações de Trump sobre o voto por correio, parece se enquadrar em uma nova política do Twitter de proteger as eleições.
Isso deve servir de alerta para usuários não postarem ou compartilharem conteúdos que possam interferir nas eleições ou afetar a participação dos eleitores.
Já no Facebook, a página do presidente americano também publica acusações sem provas sobre votações pelo correio ou seu adversário Joe Scarborough, mas ali não houve qualquer linkagem para checagem de fatos ou restrições para compartilhamento.
Isso não significa, entretanto, que o Facebook esteja fora do radar de Trump.
Na semana passada, o presidente tuitou: “A esquerda radical está no controle e no comando total do Facebook, Instagram, Twitter e Google”. E sinalizou que pretendia “remediar essa situação ilegal”.
Há relatos na mídia americana de que a Casa Branca pode criar uma comissão para investigar o assunto.
Por fim, qualquer medida que as empresas de redes sociais adotarem sobre seu mais famoso e controverso usuário será fadada a contrariar um dos dois lados (ou ambos).